Comunidade LGBTI enfrenta dia-a-dia “arduamente” e com olhos postos no futuro vive as “tragédias” do presente (c/vídeo)

27-06-2024 8:50

***Por Sandra Custódio – jornalista da Inforpress***

Cidade da Praia, 27 Jun (Inforpress) - A comunidade Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero (LGBTI) diz que enfrenta o dia-a-dia “arduamente”, vivendo as “tragédias” do presente, quer “amar e ser amada”, sonhando com um Cabo Verde para todos.

Em Cabo Verde os indicadores apontam para um número cada vez mais crescente de pessoas que estão saindo do anonimato, expondo a sua orientação ou preferência sexual, designada pela sigla LGBTI. 

Embora no país, os governos e confissões religiosas aceitarem com alguma naturalidade as pessoas com a sua orientação ou preferência sexual, essa franja da sociedade continua a enfrentar muitos desafios, sendo vítima de preconceitos, discriminação e exclusão social, com impacto negativo nas suas vidas, quer a nível profissional, estabilidade económica, no acesso aos cuidados de saúde, educação, bem como à uma habitação.

Sobre a temática, abordado hoje pela Inforpress, o pastor Luís Monteiro observou que a Igreja do Nazareno vê a sexualidade humana como uma expressão de santidade divina e uma forma como o próprio Deus revela a sua beleza na sua criação.

Nesta medida, referiu que todas as formas de sexualidade fora do quadro de um compromisso, representa algo que vai contra a natureza divina, estribando-se na passagem bíblica onde o próprio Deus diz que “deixará o homem o seu pai e mãe e unir-se-á à sua mulher e serão ambos uma só carne”.

Admitindo que a igreja está se confrontando com esta situação, principalmente nestes últimos anos, o pastor evangélico advogou que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, pelo que as pessoas LGBTI devem ser “amadas, acarinhadas e respeitadas na sua dignidade”.

“Realmente há muito preconceito e discriminação no seio da sociedade que não abonam essa comunidade. Espero que no evoluir da sociedade cabo-verdiana tenhamos uma posição bem definida sobre esta matéria”, completou.

Por seu lado, o padre Bruno Varela, segundo o qual também a Igreja Católica não descarta as pessoas por opções pessoais, considerou que esta comunidade precisa e tem a atenção da igreja, como outra qualquer.

“Todas as pessoas devem ser amadas e respeitadas como qualquer ser humano. Foi a posição de Jesus e é também da igreja. A igreja é chamada a acompanhar e procurar salvar as pessoas”, salientou o sacerdote, observando, entretanto, que as opções que a pessoa pode tomar poderão não estar de acordo com aquilo que é a lei da igreja.

“A Igreja Católica está na vanguarda e no combate a qualquer tipo de discriminação que houver, aceita e respeita as pessoas dentro da sua dignidade, independentemente das suas opções pessoais ou crenças”, concretizou.

Enquanto instituição, a presidente do Instituto Cabo-verdiano da Igualdade e Equidade do Género (ICIEG), Marisa Carvalho, destacou a importância das parcerias nessa matéria, para, conforme sublinhou, “tratar de forma diferente o que é diferente”, de modo a se alcançar a igualdade.

“Há um entendimento de todos os sectores de que esta é uma comunidade que precisa ser trabalhada. É uma comunidade que existe, mas está muito incipiente naquilo que é a organização, e naquilo que é também a luta pelos seus próprios direitos”, comentou, enunciando alguns projectos, nomeadamente “Nu sta li” e “Nos Direitu” que têm como propósito a promoção dos Direitos LGBTI em Cabo Verde, financiados pela Cooperação Espanhola.

Marisa Carvalho avançou ainda que se está também a trabalhar com o Ministério do Turismo, através de um protocolo de parceria, nessa vertente, já que Cabo Verde enquanto destino turístico recebe “curiosamente” muitos casais LGBTI.

“Dar formação ao sector turístico sobre estas temáticas para que quando recebamos pessoas desta comunidade, saibamos receber de forma tolerante, e ver também se conseguimos integrar a comunidade LGBTI neste sector”, concretizou.

Em declarações à Inforpress, o activista LGBTI, LEXIE Preston, de 29 anos, para quem a comunidade é rotulada “como uma doença ou até mesmo uma praga” numa sociedade em que deveriam ser respeitados como cidadãos dignos de direitos, conta que nasceu biologicamente diferente, tem a sua identidade de género e sexual, embora a sua identidade sexual, conforme admitiu, não seja compatível com o seu corpo.

“Mas mesmo assim aceito-me como uma pessoa perfeita de corpo e alma”, exteriorizou.

Formado em Gestão e Marketing, em nome da classe apela à Assembleia Nacional que aprova as leis e aos governantes que administram o país, a trabalharem, “de facto”, para um Cabo Verde para todos.

“Não podemos viver presos no passado. Estamos de olhos postos num futuro melhor, vivendo as tragédias do presente”, exteriorizou, lamentando, por exemplo, que o próprio sistema de ensino em Cabo Verde os “exclui” de uma educação “próspera”, sentindo-se, também, violentados ao frequentar instituições e estabelecimentos de saúde pública onde são tratados com “certa diferença”.

A publicação do “Estudo Diagnóstico sobre a Situação Social e Jurídica das Pessoas LGBTI em Cabo Verde” realizado pelo Comissão Nacional para os Direitos Humanos e a Cidadania(CNDHC), aponta algumas fragilidades enfrentadas por este grupo populacional, nomeadamente, as dificuldades de inserção no mercado de trabalho e a inexistência de uma lei penal que criminalize a discriminação com base na orientação sexual ou identidade de género.

Considera-se que para que haja uma melhoria deste panorama, “é fundamental” conhecer a situação e reivindicações da comunidade LGBTI no país, bem como realização de acções conjuntas entre os poderes públicos, ONG e todos quantos trabalham ligados à temática para que se consiga eliminar os obstáculos que embaraçam a efectivação dos direitos das pessoas LGBTI.

Refira-se que, o Dia Internacional do Orgulho LGBTI, assinalado a 28 de Junho, é uma data para relembrar a luta diária pelo respeito à diversidade, direitos civis fundamentais conquistados e políticas afirmativas focadas em combater discriminação.

 

SC/ZS

Inforpress/Fim

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