“Talvez impacto da liderança Amílcar Cabral esteja no apelo à luta contra situações neocoloniais e de injustiça” - especialista (c/áudio)

12-09-2024 14:09

Cidade da Praia, 12 Set (Inforpress) – O investigador Daniel dos Santos avançou hoje que a agenda dos movimentos sociais africanos centraliza-se na democratização e luta contra corrupção e elites de poder, asseverando que impacto de Cabral esteja talvez no apelo à luta contra neocolonialismo.

O politólogo e autor do livro “Amílcar Cabral – Um Outro Olhar”, em entrevista à Inforpress, no âmbito do centenário do nascimento do líder africano assinalado hoje, avançou que a liderança de Amílcar Cabral deve ser contextualizada num tempo determinado porque dirigia uma guerra de independência entre Cabo Verde e Guiné.

Frente aos movimentos contra o colonialismo português, Daniel dos Santos realçou que a sua liderança combinava três grandes elementos como carismático, autocrático e democrático.

Instado sobre se os pensamentos e reflexões críticos de Cabral continuam a influenciar os movimentos políticos e sociais em África e no mundo, Daniel dos Santos respondeu que “é muito provável que sim, e muito provável que não”, acrescentando que os problemas desta nova África não são iguais aos problemas de África no tempo de Cabral.

“No tempo de Amílcar Cabral a África se debatia com o problema de lutar contra o colonialismo, contra o imperialismo, o "apartheid", a instabilidade e os golpes do Estado que eram frequentes. Agora não, agora os movimentos sociais de África têm uma outra agenda que é a democratização, luta contra a corrupção em África e sobretudo contra as elites que gostam de poder ", indicou.

Disse acreditar que “talvez o impacto” da liderança de Cabral esteja no apelo à luta contra situações neocoloniais, contra situações de injustiça e situações de instabilidade política, ressaltando que a visão de Amílcar Cabral sobre a democracia tem duas dimensões.

No início dos anos 60, em 1962, explicou o politólogo, Cabral e um grupo de dirigentes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e do movimento de votação da Guiné-Cabo Verde escreveram uma carta, um memorando ao Governo português no qual propunha a instauração de um processo que levasse à independência dos dois territórios. 

Nesse memorando, continuou, Cabral e os seus companheiros de luta defendiam a democracia, liberdade de imprensa e a criação de partidos políticos.

A segunda parte, relatou, quando se iniciou a luta e a guerra em 1963, sobretudo depois do Congresso de Cassacá, quando Cabral adopta, já como líder do PAIGC, um conjunto de princípios que “colidem e chocam” com os princípios democráticos.

Em 1973, na última mensagem que dirigiu ao PAIGC, Daniel dos Santos disse que Cabral desenhou e expôs nesse discurso “com muita clareza”, que está publicado em vários livros, o tipo de regime que pensou implantar na Guiné e Cabo Verde Verde em situação pós-colonial.

Hoje, caracterizou, “temos um país democrático”, pelo qual o próprio Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), que reivindica o legado de Cabral, “contribuiu imenso”, juntamente com o Movimento Para a Democracia (MpD) e a União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) para um País com separação de poderes, liberdade de imprensa, de pensamento, de expressão e um conjunto de valores democráticos que se inspiram na própria cabo-verdianidade.

Amílcar Cabral, filho do professor Juvenal Lopes Cabral (cabo-verdiano de ascendência guineense) e de Iva Pinhel Évora (nascida na ilha de Santiago, Cabo Verde), nasceu a 12 de Setembro de 1924, em Bafatá, na então Guiné portuguesa (hoje Guiné-Bissau) e foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973, em Conacri, República da Guiné.

As comemorações do centenário do nascimento de Amílcar Lopes Cabral, um político, agrónomo e referenciado como um “teórico marxista”, têm sido marcadas por diversos eventos académicos, culturais, políticos, desportivos, sociais em várias partes do mundo.

LT/AA

Inforpress/Fim

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