PERFIL: Sandro Fonseca, “Guerreiro de luz” que venceu as drogas e procura passar o exemplo através da fotografia (c/áudio)

28/08/24 14:24

*** Por Letícia Neves, da Agência Inforpress

Mindelo, 28 Ago (Inforpress) – O ex-tóxico dependente Sandro Fonseca é um dos “guerreiros de luz” saídos do Centro Terapêutico Granja de São Filipe e que encontrou refúgio na fotografia para vencer as drogas e passar mensagem a outros que precisam.

Tal como vários outros jovens mindelenses, Sandro Fonseca teve os primeiros contactos com o álcool ainda em casa, a primeira experimentação de uma droga culturalmente “muito bem aceite” no seio das famílias cabo-verdianas e com várias finalidades, até para espantar maus espíritos.

“De uma colherzinha de álcool em casa, passei depois para as matinés nos liceus, onde aprendi a consumir também outras drogas e fui progredindo”, explicou o jovem de 35 anos.

Aliás, como disse, só no tratamento conseguiu entender os “meandros” da doença da adição, que inicia com o “consumo social” e depois chega à uma fase em que uma dose só não chega e sim, cada vez pede mais e mais.

E de dose em dose foi-se afundando ao longo dos anos, mas mesmo assim sem ter a consciência do seu problema de saúde, que negou por muito tempo, até com revolta a quem lhe dizia o contrário.

“Mas, com o passar do tempo, a reflectir e vendo outros colegas num caminho que não queria seguir e fazendo planos que não conseguia concretizar, comecei a tomar consciência”, contou este jovem, que disse ter sido salvo por uma proposta de tratamento feito pela sua irmã-gémea e que aceitou na hora.

Uma decisão que o levou ao Centro Terapêutico Granja de São Filipe, na cidade da Praia, onde integrou o “Guerreiros de luz”, denominação dada ao grupo de narcóticos anónimos do concelho.

No seio deste grupo, aprendeu a seguir o programa “12 passos” para a recuperação, com 11 passadas dadas ao longo de cinco anos de sobriedade, completos agora em 2024, e neste momento confirma estar pronto para finalizar o último ponto, que é o de passar a mensagem a outros adidos.

Hoje, na sua sobriedade, assegurou ter a experiência e força para tal, porque antes estava focado em si, em cultivar o seu auto-conhecimento e a sua firmeza de espírito.

E como ferramenta para a transmissão do “legado”, Sandro Fonseca, que se intitula como artista audiovisual, utiliza a fotografia, área na qual melhor se expressa.

Talento esse que está retratado na sua primeira exposição fotográfica, apresentada na quarta-feira, 27, no Mindelo, sob o título de “Só por hoje”.

Lema que guia a sua vida e todas as suas acções, como forma de “tirar o peso do passado, aliviar a ansiedade do futuro, mas trazer responsabilidade do agora”.

“Hoje, só por hoje, aconteça o que acontecer, não vou consumir e vou enfrentar problemas e desafios da minha vida sem consumo”, descreveu.

Uma mensagem de serenidade que está reflectida nos seus quadros de paisagens e de “momentos de dádivas” somente alcançados com a sobriedade.

Além da fotografia, também tem tentado passar a sua experiência através de conversas abertas, nas quais procura levar alento aos que actualmente vivem o mesmo problema, mas, também às famílias afectadas por este flagelo social.

“Porque a responsabilidade é de todos, não somente de quem consome”, alertou Sandro Fonseca que pede às famílias e a sociedade para nunca desistirem de ajudar os tóxicos dependentes que são, simplesmente, pessoas doentes.

LN/HF

Inforpress/Fim

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