Festivais: Sociólogo e economista defendem melhor organização, disciplina e contenção dos gastos (c/áudio)

29/08/24 12:53

Cidade da Praia, 29 Ago (Inforpress) – O sociólogo Henrique Varela e o economista Avelino Bonifácio defenderam hoje, na cidade da Praia, que é preciso “melhor” organização, disciplina e contenção dos gastos nos festivais realizados um pouco por todo Cabo Verde.

Essas considerações foram feitas hoje em entrevista à Inforpress por esses dois especialistas de áreas distintas para fazerem uma análise acerca de vários festivais que tem acontecido ao longo do ano, a nível nacional e em vários municípios.

Para o sociólogo, Henrique Varela, a realização dos festivais é um momento “importante” porque é um espaço onde as pessoas de várias localidades se reúnem, convivem e divertem.

Em Cabo Verde, disse que estes eventos são realizados nas épocas festivas para comemorar alguma data, mas que é preciso ter alguma “contenção também com os gastos” que são realizados por estas ocasiões.

“É um momento de se fazer novas amizades, conhecer novas pessoas, marcar próximos encontros de convivência”, assegurou, afirmando que não é contra a realização dos festivais.

Mas por outro lado, este sociólogo defende que há muitas outras prioridades nas quais as autarquias ou quem organiza os festivais poderiam canalizar esses recursos, como a área social, especialmente os serviços de assistência social, em que algumas pessoas com vulnerabilidade precisam dessa assistência.

Apesar das vantagens elencadas, Henrique Varela apontou ainda algumas desvantagens que, a seu ver, estes festivais trazem para as pessoas, principalmente, o consumo exagerado de álcool e drogas por alguns jovens, que certas vezes culmina em conflitos.

Apontou também assaltos praticados por pessoas mal-intencionadas após estas actividades.

Neste particular elencou um conjunto de recomendações para que esses festivais sejam um exemplo para a sociedade, designadamente, fazer um festival com mais organização, eficiência, policiamento e trabalhar para que haja menos consumo de álcool e a comercialização de bebidas alcoólicas.

Além disso apela aos promotores que respeitem os horários da abertura e do encerramento.

“Muitas vezes, ainda por volta das 08:30, no dia seguinte, ainda há artistas em palco. E isso incomoda, por exemplo, incomoda a vizinhança e quem quer descansar até mais tarde, e prejudica quem vai trabalhar no dia seguinte”, sublinhou o sociólogo. Por isso, apela a mais disciplina e pedagogia nesse sentido.

Por sua vez, o economista Avelino Bonifácio afirmou que estes festivais trazem vários benefícios e malefícios tanto na dinamização da economia, como na promoção da cultura, mas que os malefícios sobressaem mais do que os benefícios.

Neste aspecto, realçou que tem a percepção de que os festivais em Cabo Verde “não são programados” para “promover” a cultura. Ressalva, entretanto, que apenas o festival denominado "Três ritmos" que junta o funaná, o batuque e a tabanca, realizado em Santa Cruz, é que promove a cultura.

“Há sempre benefícios económicos, porque os festivais dinamizam a economia” afirmou, elucidando que toda a equipa que faz parte de um festival ganha dinheiro, desde artistas, pessoas que alugam os equipamentos de som e de palco, hotéis, restauração, comerciantes informais, motoristas de transportes públicos, entre outras áreas.

O economista explicou que esses benefícios são mais ou menos também em função de quem são os principais operadores desses festivais.

Por outro lado, Avelino Bonifácio apontou várias consequências de ordem social, de segurança pública e impacto ambiental “muito negativo” destes eventos, sobretudo a quantidade de lixo que é produzida.

“O simples facto de haver festival não é necessariamente bom nem mau. O que nós temos é de programar que tipo de festivais queremos e o que é que queremos alcançar com os festivais. E é isso que nós não fazemos neste momento”, precisou.

No que se refere aos municípios, este especialista da área económica aconselhou aos promotores em cada município a fazerem uma “reflexão profunda” e decidir o que é que pretendem alcançar com os festivais, sobretudo os objectivos.

Pede-os ainda a ter o maior controlo sobre os festivais para acautelar os malefícios sociais e ambientais, que trazem consequências à saúde pública, consumo de álcool e de droga e à poluição com os lixos.

Recomendou também aos promotores a fazerem uma orientação em relação à cultura que os festivais trazem promovendo mais artistas nacionais.

“Sobretudo quando se gasta tanto dinheiro para cachês com artistas estrangeiros uma grande parte desse cachê podia ser, e deveria sim, ser utilizado para projectos sociais nacionais”, notou.

DG/ZS

Inforpress/Fim

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