Trabalho Infantil: Praienses discordam da prática e apontam desemprego e falta de condições dos pais como maiores causas

24-02-2024 1:13

Cidade da Praia, 24 Fev (Inforpress) - Praienses ouvidos pela Inforpress manifestaram-se contra a prática do trabalho infantil, uma problemática que afecta o desenvolvimento integral das crianças, e apontam o factor desemprego e a falta de condições dos pais como maiores causas.

Numa ronda pelo Mercado do Sucupira, o maior mercado informal da capital, e onde regista-se também um número expressivo de crianças que acompanham os pais nas lides laborais do dia a dia, os entrevistados alegaram que esta prática acontece em Cabo Verde porque muitos pais estão no desemprego, e outros, apesar de terem algum rendimento, as condições de sobrevivência não têm revelado suficientes.

Para a vendedeira que se identificou como “Dade”, muitas mães colocam os filhos a realizar trabalho infantil porque após a horário escolar ou pré-escolar sentem-se obrigados a levar os filhos para onde vendem tendo em conta que trabalham por conta própria e muitos não conseguem coloca-los num jardim ou escolas, e onde possam ir buscá-los no final do dia.

Na mesma linha, Ofélia Carvalho concordou que isso acontece porque as crianças não têm com quem ficar quando saem da escola, uma vez que há um período de funcionamento, ou de manhã ou à tarde, lembrando que antigamente, nos mercados, por exemplo, era proibido aos pais estarem acompanhados dos filhos enquanto faziam os seus trabalhos.

Já Lúcia Semedo afirmou que os pais não têm com quem deixar os filhos em casa, em segurança, e optam por levá-los aos locais onde possam conseguir um ganha-pão, e aproveitam para pedir que façam alguns “mandados”, enquanto Adriano Tavares acrescentou que deixar as crianças sozinhas em casa agora é difícil, lembrando que muitos estão a desaparecer, de modo que os pais optam por assegurar eles próprios a segurança e o bem-estar dos filhos.

“O trabalho infantil obriga muitas vezes os menores a permanecer nas ruas, rouba as crianças e os jovens o tempo de divertirem e crescerem de outra forma. Então, estando na rua, isso leva com que muitas vezes praticam o furto para sobreviverem porque não há emprego”, disse André Brito, que entende que se houvesse mais emprego seria possível eliminar muitos destes aspectos no país.

Por sua vez, Adriano Tavares considerou que o trabalho infantil dificulta muito o desenvolvimento intelectual das crianças, uma vez que, justificou, recai nelas a responsabilidade que não as pertence, ou seja, a obrigação de trabalhar e contribuir para algum sustento familiar.

“É certo que muitos pais não têm condições, mas só esquecem que os filhos menores devem estar a aprender, a brincar, a aprender as coisas aos poucos. Caso contrário começam a entrar num campo em que são obrigados a se sentir adultos forçosamente quando ainda não estão preparados”, argumentou.

Adriano Tavares entende que a situação é “um pouco complicada” porque muitos pais não têm as melhores condições de sustentabilidade e acabam por incluir as crianças no mundo laboral desde muito cedo, ressaltando que a par disso pode entrar a parte do consumo do álcool e a prostituição.

Por isso, os entrevistados clamam pela atenção das autoridades competentes sobre esta problemática, no sentido de criarem mais empregos, sobretudo para os jovens, assim como pensarem em espaços que sejam a um preço acessível para albergar crianças em vulnerabilidades sociais, onde possam estar em segurança até o final do dia, altura em que os pais possam ir buscá-los.

Um estudo apresentado pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) no âmbito do Inquérito Multi-objectivo Contínuo (IMC), realizado entre Novembro de 2022 e Janeiro de 2023 com uma amostra aleatória de agregados familiares provenientes de áreas urbanas e rurais, a nível nacional, concluiu que o trabalho infantil afecta 4,2% das crianças cabo-verdianas entre os cinco e 17 anos.

Destes, elucidou, 2,5% trabalham em condições perigosas, sendo que grande parte trabalha para os familiares. No universo de 117 mil crianças entre os 5 a 17 anos, 50,5% são rapazes, 49,5 % meninas e 74,4% estão no meio urbano.

ET/CP

Inforpress/Fim

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