Órgãos: Apesar da fraca movimentação comunidade de Pico d’Antónia insiste em “manter vivo” o tradicional almoço de Cinzas

14-02-2024 18:59

*** Por Feliciano Monteiro, da Agência Inforpress ***

João Teves, 14 Fev (Inforpress) – A Festa de Cinzas voltou hoje a ser comemorada em Pico d’Antónia, nos Órgãos, de forma tímida e com fraca movimentação de pessoas, mas a comunidade insiste em manter viva esta manifestação cultural da ilha de Santiago.

A população dessa comunidade rural, que vem “revitalizando” esta manifestação cultural da ilha de Santiago, com excepção dos anos da pandemia, promove todos os anos a edição do tradicional almoço de Cinzas, com o intuito de manter viva a Festa de Cinzas.

Em declarações à imprensa, as donas de casa Clarice Vieira, de 66 anos, e Maria da Conceição da Costa, de 69 anos, admitiram que esta festa está a “perder forças” e a tornar-se num convívio familiar.

Estas duas idosas, que lembraram do “toque de gaita” e que ainda crianças iam atrás dançando, da movimentação de pessoas tanto das outras localidades de São Lourenço dos Órgãos e dos outros municípios da ilha de Santiago que se deslocavam todos os anos à Pico d’ Antónia, comprometeram-se em manter viva esta tradição que ganharam dos seus pais enquanto estiverem vivas.

Mesmo com a previsão da presença de poucas pessoas as duas donas de casas, que outrora cozinhavam em abundância porque recebiam “enchente” na comunidade, e em particular nas suas casas, asseguraram que à semelhança dos anos anteriores, prepararam grandes quantidades de comida, que vai ser servido a todos os que por ali passarem.

“Não podemos deixar de celebrar as Cinzas em Pico d´Antónia, apesar de esta festa estar a perder a força de outrora”, afirmaram, notando que actualmente temem em cozinhar em abundância para depois ser comida para porcos.

Já a jovem Nélida Vieira, mais conhecida por “Neia”, também admitiu que este tradicional almaço de Cinzas está a perder forças ano após ano, justificando a fraca movimentação das pessoas, com a crise, emigração juvenil e com a realização do evento do tipo um pouco por todos os municípios de Santiago Norte e da ilha de Santiago.

Ou seja, ajuntou que as pessoas preferem celebrar nas suas casas em vez de se deslocarem para esta comunidade rural, tendo em conta que o transporte também registou um aumento.

“Esta festa é para todas as pessoas, quer amigos, familiares, conhecidos e não. Todos são bem-vindos e a porta da nossas casas estará aberta para todas as pessoas”, assegurou Neia, que é filha da idosa Clarice Vieira.

Esta jovem, que ficou uma das cozinheiras, comprometeu-se em não deixar morrer esta tradição cultural, tendo, por outro lado, lamentado o facto de esta festa estar a perder forças e a tornar-se numa festa apenas para convívio familiar.

Já os que participam pela primeira vez mostraram a curiosidade em experimentar sobretudo “trutxida”, e quando o almoço foi servido comeram e gostaram, e não ficaram por um prato.

Entretanto, mesmo de forma tímida, nota-se a chegada de algumas pessoas, sobretudo familiares, que foram recebidas de “braços abertos” e com uma mesa “farta” com diversos pratos, desde xerém, arroz, congo verde (sem carne), cozido de peixe seco e de legumes, feijão, em forma de “trutxida” com coco e ovo, e cuscuz de milho e camoca com mel e leite, como sobremesa.

No dia de Cinzas, segundo os religiosos, a igreja recomenda não só a abstinência de carne como também o jejum.

Entretanto, em Cabo Verde, mormente no interior da ilha de Santiago, muitas pessoas se deixam levar pela tradição cultural e as residências são recheadas de pratos tradicionais.

Para além da ilha de Santiago, onde a população quer manter viva esta manifestação cultural, as Cinzas são também festejadas de forma assinalável nas ilhas do Maio, Fogo e Brava.

Em Santiago Norte, com excepção do município de São Salvador do Mundo, os demais cinco municípios organizaram mais uma edição da “Feira de Cinzas”, disponibilizando os principais ingredientes para a confecção do tradicional almoço desta quarta-feira de Cinzas.

Também em São Miguel, no âmbito da segunda edição do “Calheta Gastrofest Cinzas”, considerado “mais um micro-produto temático turístico”, promoveu hoje na Praia de Calhetona um festival de música, que com previsão de arranque a partir das 15:00 e com término previsto para as 22:00.

Além dos 22 talentos locais, o evento musical que terá entrada livre, vai contar ainda com artistas como Titio de Belo Freire e Camoka com o “fenómeno cotxi pó”, Leydy Indira, Lejemea, Jonatthon, MC Acondize, MC Prego Prego e MC Tranka Fulha.

FM/HF

Inforpress/Fim

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