Futebol: Chef que queria ser guarda-redes espera agora “tocar o céu com as mãos” e cozinhar num Mundial (c/áudio)

26-02-2024 0:39

*** Por Américo Antunes, da Agência Inforpress ***

Mindelo, 26 Fev (Inforpress) – Igual à maioria das crianças cabo-verdianas, quando menino, o chef de cozinha Lamine Medina, que actuava como guarda-redes, queria ser profissional de futebol e desejava integrar a selecção, ou seja, exercer a função actualmente de Vozinha.

O desejo, porém, não virou realidade, pelo menos dentro de campo, mas, recentemente, no Campeonato Africano de Futebol (CAN), na Costa do Marfim, Lamine Medina, na qualidade de responsável pela alimentação da selecção, voltou a sonhar, agora em retrospectiva.

“Estar ali com esses jogadores fez-me também sonhar, ir um bocadinho atrás e imaginar, olha, tu quando eras miúdo nem imaginavas que um dia ias estar num CAN com Cabo Verde, na tua área, a representar o teu país, e de tão bem sentir e estar aqui com essa malta toda, um momento fantástico”, lançou chef Lamine Medina, para início de conversa com a Inforpress, no Mindelo.

Agora, como revelou, falta “tocar o céu com as mãos”, ou seja, cozinhar para a selecção num Munidal. “Sim, claro, sonho em tudo que seja representar Cabo Verde, seja ele a nível individual, seja a nível de selecção, acho que é um sonho, é uma motivação ímpar”.

A entrevista tinha como mote desvendar a experiência de comandar a cozinha da selecção numa prova de alto nível, mas Lamine Medina sempre revelou confiança desde que recebeu o telefonema/convite do presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol (FCF), Mário Semedo.

“Logo de pronto disse que tinha total disponibilidade para ajudar a selecção”, contou, e, acto contínuo, começou a “desenhar” com “muita vontade e confiança” aquilo ia levar à mesa dos futebolistas e staff.

A sua mente fervilhava de ideias e, enquanto esperava o dia da viagem, fez todo um trabalho de pesquisa antecipado, do que era o mercado, do que é que se podia encontrar na Costa do Marfim, a nível de frescos, e de produtos que podia utilizar.

Como contou, estava “perfeitamente à-vontade”, porque viu que se trata de um “país riquíssimo” nesse aspecto, produtos frescos, naturais, principalmente em frutas, peixe e mariscos.

“Depois, cheguei lá, fui muito bem acolhido pelo hotel, que fez as honras da casa, pois a minha ideia era oferecer energia e alimentos de qualidade aos jogadores”, observou o chef, que só tem palavras para elogiar o pessoal do hotel em Abidjan, que tinha uma equipa de mais de 20 pessoas, num hotel quatro estrelas executivo.

“Criou-se muita sinergia, muita amizade, até hoje há pessoal com quem nós falamos, que mandam mensagens, inclusivamente uma coisa interessante, a troca de experiências entre o que eu tinha e que podia deixar, e o que eu podia trazer de lá, portanto foi fantástico nesse sentido”, apontou.

Mas, para o cardápio, o que levou de Cabo Verde, questionamos: “Há uma coisa que eu levo sempre, quando se trata de Cabo Verde, quando se trata de outras representações, neste caso também estávamos a falar de uma selecção essencialmente cabo-verdiana, então levei milho nacional, feijão, feijão congo, portanto, a ervilha verde depois de seca, o que fez uma diferença lá no CAN”.

A cachupa, aliás, apontou o chef, foi “um prato que pegou e que deu sorte”, era sempre apresentado a seguir aos jogos, tipo um prémio de jogo, com a devida autorização da equipa técnica.

Sempre após os jogos apresentava a cachupa ou uma feijoada, “muito importante” para os futebolistas sentirem que o conforto da parte alimentar fazia-os sentir também perto de casa, o que encurta o caminho.

Mas, normalmente, nos dias que antecedem os jogos e no dia do jogo não pode faltar carne branca grelhada, como peru e frango, peixe de profundidade, como melro, badejo ou garoupa grelhado ou mesmo assado com pouca gordura, muito arroz e muita massa.

A Inforpress quis saber se os futebolistas têm graus elevados de exigência a nível da alimentação, mas Lamine Medina disse ter, sim, encontrado jogadores com as suas particularidades, diferentes uns dos outros, mas um grupo “bastante forte”.

“Está aí a chave de muito que foi o sucesso da nossa participação, um grupo muito coeso, muito simples, com um nível alto de humildade e coesão, o que tornou fácil também o meu trabalho”, concretizou, e tornou as suas propostas culinárias “tudo bem aceites”.

“Havia um ou outro com alguma exigência ou intolerância a algum produto ou outro, mas era facilmente discutível e encontrava-se solução para um ou outro jogador, mas essencialmente tinha uma matriz, digamos assim, alimentar bastante comum, bastante parecido um com o outro”, sintetizou.

Sobre o país que acolheu o CAN’2023, Lamine Medina disse ter ficado impressionado com a sociedade da Costa do Marfim “muito humilde, com muita capacidade de trabalho, muita simpatia, muita educação”, e, sobretudo, “o que é raro ver às vezes, muita disciplina no trabalho”.

Aliás, Lamine Medina deixou uma “referência especial” a uma cabo-verdiana que fazia parte da equipa da cozinha, a Milanka, que encontrou ali e já estava um mês a trabalhar, só para receber a selecção.

“Era, digamos assim, o meu braço direito na cozinha, que fez um trabalho grande, que quero aqui realçar e aproveitar para homenageá-la pelo trabalho que fez, digamos desempenhou, para que eu tivesse um bom desempenho na cozinha”, especificou.

E agora, é para continuar chef Lamine a “dar de comer à selecção” no futuro, perguntamos: “Com certeza, estou disponível, as pessoas sabem que estou disponível, portanto, o que vir eu estarei aqui pronto para ajudar”, sintetizou.

Chef Lamine Medina começou “muito novo” nas lides da cozinha, em criança andava atrás das avós na cozinha a experimentar e “saber dos sabores”, até que o pai foi trabalhar ligado a um hotel, onde Lamine passava os dias todos dentro da cozinha.

Um belo dia, contou, disse que queria ser cozinheiro e apareceu a oportunidade de ir à Alemanha fazer uma formação, depois foi para Portugal, onde fez um curso de chef de cozinha, e daí para frente foi sempre a trabalhar na área.

Trabalhou em Angola, tem negócio próprio no Mindelo, trabalha também como freelancer, fora de Cabo Verde e no país, e presta consultoria.

“O momento é agora, com esse grupo, muita gente nova, com vontade de fazer, com vontade de mostrar, eu acho que temos aí uma boa selecção que pode ainda dar muitas alegrias aos cabo-verdianos”, desejou.

 

AA/ZS

Inforpress/Fim

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