Carnaval/São Vicente: Nóia procura desmistificar a Matemática e quer olhares novos à disciplina após desfile do “Cruzeiros do Norte”

03-02-2024 0:16

Mindelo, 03 Fev (Inforpress) – O carnavalesco Fernando Morais, mais conhecido por “Nóia”, responsável pelo enredo do grupo Cruzeiros do Norte, traz aos asfaltos do Mindelo a “Dona Matemática” com intuito de a desmistificar e procurar novos olhares à disciplina.

Como contou à Inforpress, o “bichinho” da festa do Rei Momo tomou-lhe conta a partir dos oito anos, quando foi convidado por Isidoro Brito “Nhô Doi”, um dos impulsionadores dos Vindos do Oriente e “vizinho tratado como família”, a substituir um desenhista que tinha faltado ao trabalho.

Hoje, passados mais de 40 anos, ainda continua nas lides dos estaleiros do Carnaval, mesmo depois de alguns anos ausente de Cabo Verde para formações, inclusive para a especialidade em Realização Plástica de Espectáculos, e neste momento dedica-se ao grupo da sua zona natal Cruz João Évora, no qual criou enredos como “Lusofonia”, “Três Kosa sab na vida” (três coisas boas da vida, em português).

Agora em 2024, o carnavalesco procurou ousar mais uma vez e para os 40 anos de desfiles do “Cruzeiros do Norte” colocará nas ruas do Mindelo o enredo “A dona Matemática governa tudo e rebola no Carnaval”, inspirado, explicou, nos “muitos problemas” relacionados com a disciplina no sistema de ensino de Cabo Verde.

“Nós, os cabo-verdianos colocamos em nossas cabeças que não somos muito dado à Matemática e temos visto isso na avaliação dos finais dos anos lectivos, nos quais existem muitas dificuldades. Não sei se mesmo do sistema, ou se maneira dos professores transmitirem os conhecimentos”, considerou.

Daí, a sua intenção de desmistificar a Matemática, para mostrar que “não é tão aterrorizante, mas, sim, algo bem simples, lógico, disciplina linguagem do universo e a quem o ser humano é indissociável, uma vez que governa tudo”.

 “A dona Matemática virá assanhada para Carnaval e vai nos mostrar que não é nada como a vemos. Se a abraçarmos, nos levará para o bom caminho, mas, se a desprezarmos leva-nos para o outro lado”, aconselhou, com a ideia de que após o desfile do grupo de Cruz João Évora, todo aquele ligado à Matemática, “não vai ficar indiferente e a verá com outros olhos”.

Até porque, asseverou, pretende trazer, através de três carros alegóricos, um tripé da comissão de frente e nos diversos trajes, “algo inédito”, nunca por outros e nem por ele abordado, mesmo com a consciência de que nunca conseguirá atingir os 100 por cento (%) da ideia do papel para a prática.

Entretanto, Nóia assegurou que se contentará se conseguir atingir os 60%, uma “boa média” em um País, onde ainda não foi criado um mercado para o Carnaval e os fazedores da festa enfrentam diversos condicionantes, desde indisponibilidade de materiais, preços exagerados, falta de financiamento e “muito pouco tempo” para organizar um desfile.

“Ainda não chegamos neste ponto de indústria do Carnaval, podíamos já estar lá, mas, ainda só se conhece de conversas”, criticou o carnavalesco de longas caminhadas, que disse estar sempre disposto a dar conselhos, mas, até agora não tem sido ouvido.

Mesmo assim tenta mais uma vez e mostrou o seu desacordo com a ideia de se retirar o Carnaval da “Morada” (centro da Cidade do Mindelo), onde acredita estar a essência do evento mindelense.

“Carnaval é Morada e Morada é Carnaval, e retirar os desfiles dali seria a mesma coisa que tirarmos o Monte Cara de onde está e o levarmos para Baía das Gatas”, exemplificou, apontando outros “disparates” com a sugestão já aventada de se mudar a data do Carnaval em São Vicente, “passando por cima do facto de ser um evento de caracter religioso e que está intimamente ligado à data da Páscoa”.

Em vez disso, aconselhou as pessoas a pensarem numa forma de tornar o Carnaval, no Mindelo, auto-sustentável, algo na sua óptica “completamente possível”, se a Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval- São Vicente (LIGOC-SV) e os grupos trabalharem com “mente progressista e de união para o bem da ilha”.
 
Da parte dos carnavalescos, assegurou que ele e os seus colegas estão fazendo a sua parte, e até já criaram um núcleo oficializado, embora, até agora sem reconhecimento.
 
Questionado sobre o novo prémio instituído para o Carnaval de 2024 para o “Melhor Carnavalesco”, Nóia acredita ser alguma evolução, mas, “ainda sim uma faca de dois gumes”.

 “Quem vai avaliar-me, por exemplo, vai ver todos os desenhos que fiz, vai acompanhar os trabalhos no estaleiro, a minha assiduidade, os meus longos anos a trabalhar no Carnaval, muitas vezes de graça, vai contar, ou será que é por um grupo vencer o prémio lugar vai também ganhar o prémio de melhor carnavalesco”, questionou, deixando as respostas por conta da LIGOC-SV e com a esperança de não acontecer "injustiças".

Por estes dias, São Vicente já respira Carnaval, que, além dos grupos de animação, estará nas ruas com destaque para o desfile da Escola do Samba Tropical, na segunda-feira, 12, pelas 21:00.

O desfile de terça-feira, 13, do Carnaval 2024, organizado pela Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval – São Vicente (LIGOC-SV), principia às 19:00, no percurso habitual, Praça Dom Luís-Rua de Lisboa-Avenida Baltazar Lopes da Silva-Praça Nova-Avenida 5 de Julho.

De acordo com o sorteio da ordem do desfile, o grupo Estrela do Mar será o primeiro a entrar na Rua de Lisboa, às 19:00, seguido de Flores do Mindelo (19:30), Monte Sossego (20:00) e Cruzeiros do Norte (20:30).
 
LN/JMV
Inforpress/Fim
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