Brasília, 30 Jul (Inforpress) – O Presidente brasileiro aguarda uma chamada do homólogo norte-americano para discutir as tarifas impostas por Donald Trump, mas com um plano de contingência nas mãos para ser ativado caso as taxas comecem sexta-feira.
Tanto o Palácio do Planalto (Presidência) como o Congresso brasileiro trabalham activamente nos bastidores num esforço para reforçar o interesse do Brasil numa negociação das tarifas de 50%, que foram anunciadas no dia 09 de Julho numa carta de Trump publicada nas redes sociais e endereçada ao Presidente brasileiro, com a justificação (não factual) de fluxo de comércio injusto entre os dois países e pela alegada "caça às bruxas" do sistema judicial brasileiro ao ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado.
Na segunda-feira, o vice-Presidente brasileiro e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, realizou uma nova conversa telefónica com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick.
Segundo a imprensa local, a conversa durou 50 minutos mas o efeito pretendido não resultou: trazer Donald Trump para a mesa das negociações.
Numa tentativa de aproximação, o próprio Lula da Silva afirmou, nesse mesmo dia, que o Brasil quer sentar-se à mesa com os Estados Unidos.
"Tem divergência? Sente numa mesa, coloque a divergência do lado e vamos tentar resolver e não de uma forma abrupta, individual, de tomar a decisão que vai taxar o Brasil em 50%", disse.
O ministro das Finanças, Fernando Haddad, admitiu na terça-feira a possibilidade de uma conversa entre os dois Presidentes, mas advertiu que “tem que haver uma preparação antes para que seja uma coisa respeitosa, para que os dois povos se sintam valorizados à mesa de negociação”.
“Estamos procurando os canais para trazer para a racionalidade. Agora, isso tem que ter um protocolo: você não vai querer que o presidente Lula se comporte como o Bolsonaro se comportava, abanando o rabo e falando ‘I love you’ e batendo continência", disse, em entrevista à CNN Brasil.
Em paralelo, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, que se encontra em Nova Iorque oficialmente na Conferência Internacional de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão da Palestina, já sinalizou que ficará no país até quarta-feira e que quer conversar com as autoridades norte-americanas.
"Nós sinalizámos ao Governo que o ministro estaria disposto a conversar com autoridades" sobre o tema das tarifas", disse à Lusa fonte do Itamaraty.
Na terça-feira, até às 19:45 de Portugal, não houve qualquer contacto por parte dos Estados Unidos, disse à Lusa a mesma fonte.
Também nos Estados Unidos, encontra-se uma delegação de oito senadores brasileiros de vários partidos com a missão de estabelecer diálogos e demonstrar as perdas bilaterais que os países enfrentam.
Foram recebidos pela Câmara Americana de Comércio, por executivos de multinacionais como Cargill, ExxonMobil, Johnson & Johnson e Caterpillar e também por congressistas norte-americanos.
Contudo, há um obstáculo a travar todas estas pretensões brasileiras, numa espécie de Governo sombra oficioso: Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-Presidente brasileiro.
“Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo, porque sei que, vindo desse tipo de pessoa, só haverá acordos daquele tipo meio-termo, que não é nem certo, nem errado” disse, em entevista ao SBT News.
Eduardo Bolsonaro encontra-se nos Estados Unidos e é praticamente a única ligação que o Brasil tem, neste momento, com a Casa Branca.
Mas está a trabalhar precisamente para o oposto, tendo já sinalizado que as tarifas estão intimamente ligadas ao processo de Jair Bolsonaro e que estas apenas seriam retiradas caso fosse dada uma amnistia ao seu pai.
“Estamos em guerra. Ou é tudo, ou nada” frisou.
Entretanto, e precavendo-se para o pior, Lula da Silva já recebeu um plano de contingência destinado a apoiar as empresas caso os EUA não adiem a entrada em vigor da nova tarifa, prevista para esta sexta-feira.
O plano foi elaborado pelos Ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços das Relações Exteriores e Casa Civil.
“Os cenários possíveis já são de conhecimento do Presidente. Ainda não tomámos nenhuma decisão, porque nem sabemos qual será a decisão dos Estados Unidos no dia 01 [de Agosto]. O importante é que o Presidente tem na mão os cenários todos que foram definidos pelos quatro ministérios”, disse Haddad, citado pela Agência Brasil.
Inforpress/Lusa
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