Paul, 07 Jul (Inforpress) – O Farol Fontes Pereira de Melo, em Pontinha de Janela, voltou a iluminar o mar e a ilha de Santo Antão, após intervenção que, além de reabilitá-lo, transformou-o num espaço de lazer, cultura e promoção do turismo.
Em declarações hoje à imprensa, após a sua inauguração, a presidente do Instituto do Património Cultural (IPC), Ana Samira Silva Baessa, sublinhou que esta intervenção "vai muito além da recuperação física do farol", devolvendo a Santo Antão um património histórico com valências sociais e económicas.
“Este projecto resulta de uma parceria entre o IPC e o Instituto Marítimo e Portuário (IMP), financiada pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), e tem como objectivo não só a conservação dos faróis enquanto instrumentos de auxílio à navegação, mas também o aproveitamento do seu potencial turístico, cultural e social”, afirmou.
Para aquela responsável, Santo Antão, com a sua “forte” identidade cultural e “crescente dinamismo” turístico, "ganha mais um espaço qualificado que, além de cumprir a sua função histórica ligada ao mar, passa a servir a comunidade como local de lazer, contemplação, inspiração e realização de eventos culturais”.
Segundo Ana Baessa, esta primeira fase da intervenção no Farol Fontes Pereira de Melo representou um investimento superior a cinco mil contos e permitiu a reabilitação integral do edifício, preservando a sua integridade patrimonial e garantindo que continue a desempenhar a sua função original de apoio à navegação.
Contudo, acrescentou, a intenção é que o espaço se torne também num ponto de atracção para residentes e visitantes.
“Queremos que este espaço seja apropriado pela comunidade, que as famílias possam aqui desfrutar do mar e que este sirva de palco para momentos de criação artística, literatura, música e eventos sociais”, sublinhou.
A segunda fase do projecto, explicou, prevê o lançamento de um concurso público para concessão de serviços de restauração e esplanada, de forma a dinamizar ainda mais o espaço e envolver o sector privado na sua gestão.
A presidente do IPC recordou ainda o impacto positivo já registado com um projecto semelhante no Farol Maria Pia, na cidade da Praia, onde foi criada uma equipa fixa de trabalho, contribuindo para a geração de emprego e para a promoção do turismo cultural.
Por sua vez, o director da AECID, Antón Leis García, destacou que o impacto social e económico da iniciativa foi uma das grandes motivações da cooperação espanhola.
“Para nós, é fundamental o impacto junto das populações e comunidades. Já sentimos o interesse da população de Santo Antão em participar e em transformar este espaço, não apenas num local cultural, mas também num motor de actividade económica. A criação de empregos e novas oportunidades para a ilha é um dos objectivos centrais”, afirmou.
Antón Leis lembrou que a Cooperação Espanhola já implementa, em Santo Antão, projetos nas áreas da segurança alimentar e do turismo sustentável, mas sublinhou que a valorização cultural dos faróis de Cabo Verde representa uma dimensão essencial desta parceria.
“Os faróis simbolizam valores partilhados entre Espanha e Cabo Verde: a ciência, o auxílio a quem mais precisa, e a segurança no mar. Muitas vidas foram salvas graças a estes faróis. A ideia de orientar, de colaborar e de trabalhar em conjunto, isso é o que representa a verdadeira cooperação”, referiu, acrescentando que este projecto transmite uma mensagem de esperança e prosperidade partilhada entre os dois países.
A intervenção no Farol Fontes Pereira de Melo, que contou com um investimento superior a cinco mil contos, faz parte de um programa de valorização de oito faróis históricos em cinco ilhas de Cabo Verde, financiado pela AECID em mais de 600 mil euros.
A cerimónia de inauguração contou com a presença de representantes das entidades promotoras e parceiras do projecto, incluindo o Ministério do Mar, o presidente do Instituto Marítimo e Portuário, autoridades locais e membros da comunidade.
O Farol Fontes Pereira de Melo, também conhecido como Farol do Boi, foi construído dois anos após a publicação da portaria régia de 2 de Abril de 1884. Teve um papel relevante na navegação marítima, assinalando a entrada norte do Porto Grande de São Vicente.
Faz igualmente parte da história da ilha ao estar ligado à Revolta de Santo Antão de 17 de Abril de 1886, quando o Governo Colonial mobilizou a canhoneira Mandovi para patrulhar as águas próximas, com o objectivo de proteger a equipa construtora e a obra já edificada, perante o receio infundado de que a população revoltada destruiria o farol.
LFS/ZS
Inforpress/Fim
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