
Cidade da Praia, 05 Nov (Inforpress) – Profissionais da Rádio Televisão Cabo-verdiana (RTC), em parceria com a Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (Ajoc), promovem hoje uma vigília para manifestar solidariedade à directora da TCV suspensa e denunciar alegado atentado à liberdade de imprensa.
Bernardina Ferreira, também conhecida como Dina Ferreira, foi suspensa pelo conselho de administração da Radiotelevisão Cabo-verdiana (RTC) por 45 dias, sem direito a salário, na sequência de um processo em que a Agência Reguladora da Comunicação Social (ARC) classificou como “ingerência e violação da autonomia da televisão [pública]” por parte do conselho de administração da RTC, à qual a reguladora aplicou uma coima de 350 mil escudos.
Em declarações à Inforpress, Júlio Rodrigues, jornalista da TCV e um dos promotores da iniciativa, afirmou que a vigília tem como objectivo manifestar solidariedade para com a directora da televisão, que, segundo os trabalhadores, está a ser alvo de perseguição por parte do conselho de administração.
Segundo Júlio Rodrigues, a penalização de 45 dias de suspensão sem salário imposta é “um abuso de autoridade” contra alguém que “apenas defende a autonomia editorial” da estação pública.
"Estamos a solidarizar com a Dina, mas também estamos a dizer um não e que não admitimos que ninguém efetivamente venha fazer uma regressão nas conquistas que já tivemos em termos de liberdade de imprensa”, sublinhou.
O jornalista denunciou ainda que o conselho de administração assinou um contrato com uma produtora externa sem o conhecimento da direcção, contrariando os procedimentos internos e desrespeitando os pareceres da ARC.
Conforme a mesma fonte, a atitude do conselho revela algo “muito mais grave”, pois se trata de “um atentado contra a liberdade de imprensa e contra as conquistas alcançadas a duras penas”.
Considerou ainda que ignorar as deliberações da ARC é como “atirar uma pedra contra a própria Assembleia Nacional”.
“O mais grave ainda é que esse processo acontece perante dois pareceres da ARC, ou seja, o conselho da administração comete uma ilegalidade desta envergadura e como se estivesse a dar uma pedrada na própria Assembleia da República Nacional”, precisou.
A vigília, explicou, é “um acto simbólico e pacífico” que inclui uma marcha da porta da TCV à portaria do edifício da RTC, com o intuito de demonstrar “tristeza e solidariedade para com o colega afastado de forma injusta”.
Júlio Rodrigues adiantou ainda que os profissionais estão a recolher assinaturas para apoiar financeiramente a colega Dina Ferreira, caso a decisão de suspensão sem salário seja mantida, esperando que “a justiça prevaleça e a penalização seja anulada”.
Segundo Dina Ferreira, a presidente do conselho de administração da RTC e o administrador para a área Técnica contratualizaram, a 18 de Julho, um programa de foro editorial para a TCV, sem o conhecimento da direcção da estação.
Acrescentou que o contrato firmado estipulava a emissão do programa semanalmente, durante 12 meses, num total de 52 episódios e ao valor de 70 mil escudos cada.
A direcção da TCV, apontou a mesma fonte, ficou a saber do documento assinado pela própria produtora, após esta não ter conseguido entregar o programa directamente para emissão.
Entretanto, Dina Ferreira realçou que, numa tentativa de diálogo, reagiu apelando ao “bom senso” e informando que solicitaria um parecer à ARC, caso o conselho de administração continuasse a insistir.
AV/AA
Inforpress/Fim
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