Adis Abeba, 01 Jul (Inforpress) - O secretário executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África defendeu hoje a utilização de energia nuclear em África, considerando que o desenvolvimento económico no continente vai precisar de um aumento exponencial de energia.
"Devemos aproveitar o potencial da energia nuclear e adotar um compromisso político ousado, apoiado por um roteiro nacional claro, incluindo datas-alvo para centrais operacionais e iniciativas de capacitação de longo prazo", escreveu Claver Gatete num artigo de opinião enviado à Lusa, no qual anuncia o apoio à energia nuclear e afirma que "o potencial é enorme e pode resultar na criação de milhares de empregos qualificados e na transformação do sistema energético de África para uma maior segurança energética".
Para o subsecretário-geral das Nações Unidas, os governos africanos devem "aproveitar a fiabilidade da energia nuclear, já que, com um fator de capacidade de 90%, as centrais têm uma vida útil até 45 anos" e poderão ajudar a atingir as metas previstas por várias entidades internacionais sobre as necessidades energéticas do continente.
"A Agência Internacional de Energia estima que o crescimento da indústria, do comércio e da agricultura em África exigirá um aumento de 40% na procura de eletricidade até 2030, e a UNECA prevê que as necessidades de eletricidade da Zona de Comércio Livre Continental Africana [AfCFTA, na sigla em inglês] representarão 8% da capacidade total de eletricidade do continente até 2035 e 14% até 2040, exigindo um investimento adicional de 22,4 mil milhões de dólares [18,9 mil milhões de euros] entre 2025 e 2040", lembra Gatete, acrescentando que, "até 2040, devido ao rápido crescimento populacional e económico em África, o fornecimento de eletricidade deverá aumentar mais de quatro vezes".
Não fugindo às críticas imediatas que surgem quando se fala em energia nuclear, sobre os acidentes mortíferos, o líder da UNECA admite que "os críticos têm razão em debater questões de segurança, dolo, acidentes, custos e potenciais efeitos nocivos para o ambiente" e acrescenta: "Muitos argumentam que investir em energias renováveis é suficiente, e além disso é improvável que o público esqueça Chernobyl e Fukushima e a ameaça constante de uma guerra nuclear".
No entanto, contrapõe, "a central de Koeberg, na África do Sul, funciona em segurança há 40 anos, provando que a energia nuclear resulta no continente, e os especialistas observam que a energia nuclear tem a menor taxa de mortalidade por kWh de qualquer fonte de energia importante, sendo mais segura do que a eólica e a solar quando se têm em conta os riscos de fabrico".
Gatete lembra os exemplos de países como Coreia do Sul e França, e apresenta o Egito, Ruanda, Gana, Uganda, África do Sul, Nigéria e Zâmbia como exemplo de "países que estão firmemente comprometidos em iniciar ou expandir seus programas de energia nuclear", para além dos governos do Níger, Quénia, Tunísia, Marrocos, Etiópia, Tanzânia, Namíbia, República Democrática do Congo, Senegal, Argélia e Zimbabué, que estão a trabalhar para que a energia nuclear tenha um papel nos seus futuros sistemas de fornecimento de eletricidade".
Para o líder da ONU em África, "é chegado o momento de passar do potencial à ação; se for bem feito, África poderá ser líder neste setor".
A iniciativa de Claver Gatete surge menos de um mês depois de o presidente do Banco Mundial ter anunciado aos seus colaboradores que a maior entidade multilateral de financiamento vai, "pela primeira vez desde há décadas”, apoiar investimentos em energia nuclear.
O Banco vai apoiar "os esforços de prolongamento dos reatores existentes, e melhoria as redes e infraestruturas, e trabalhar na aceleração do potencial dos pequenos reatores modulares (PRM), que vão oferecer uma opção viável a mais países no longo prazo", disse Ajay Banga numa mensagem aos colaboradores, citada pela agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP).
Inforpress/Lusa
Fim
Partilhar