São Filipe, 19 Out (Inforpress) - O coordenador do projecto Reduce, Jacob Gonzalez-Solis, disse que a falta de emissão de uma autorização da Direcção Nacional do Ambiente (DNA) atrasa e coloca em risco o projecto de pesquisa das tartarugas marinhas.
O ambientalista disse que aguarda há quase um ano uma autorização da DNA para a recolha de amostras genéticas de tartarugas marinhas no arquipélago e lembrou que o pedido da solicitação, feito em Dezembro de 2024, e a falta de resposta “compromete seriamente” o cronograma do projecto.
“Trabalho em Cabo Verde há mais de 20 anos e nunca vi algo assim, um atraso de quase um ano para dar uma autorização para coleta de amostras é inaceitável” lamentou o especialista.
Segundo o mesmo, o pedido de autorização permitiria à recolha de amostras genéticas de tartarugas capturadas acidentalmente por embarcações de pesca industrial e apontou que o objectivo é identificar, por meio de análises de DNA, a origem geográfica das tartarugas, se pertencem às populações que reproduzem nas ilhas de Cabo Verde, ou se vêm de outras regiões do Atlântico, como o Brasil ou os Estados Unidos.
“Essas informações são cruciais para entender o impacto da pesca nas populações de tartarugas que se reproduzem em Cabo Verde. Sem os dados genéticos, o projecto perde a capacidade de rastrear e proteger adequadamente essas populações vulneráveis”, referiu.
“Se não sabemos de onde vem a tartaruga, não podemos estudar o impacto da pesca sobre aquela população. Estamos perdendo uma oportunidade de ouro”, alertou o coordenador.
O projecto Reduce, financiado pela União Europeia com nove milhões de euros, tem previsão de término em 2027 e apesar de ainda faltam mais dois anos Jacob Gonzalez-Solis afirma que a janela ideal para a coleta das amostras, o período de nascimento das tartaruguinhas, já foi perdida este ano.
A coleta seria feita de forma não invasiva, utilizando tecidos de tartarugas recém-nascidas que não sobreviveram ao nascimento e ficaram nos ninhos, e as amostras seriam posteriormente enviadas à Europa para análise genética.
O procedimento de recolha conta com o apoio de diversas ONG locais e nacionais, que já colaboram com o projecto.
“Se eu recebesse a autorização amanhã, ainda teríamos uma ou duas semanas para obter algumas amostras. Mas não há resposta. Eles não respondem aos e-mails”, lamentou.
A paralisação do processo representa não apenas um retrocesso para a pesquisa científica, mas também uma ameaça directa à conservação das tartarugas marinhas de Cabo Verde, cujas populações estão sob crescente pressão da pesca industrial.
Jacob Gonzalez-Solis também alertou que se a autorização não for emitida a tempo essa etapa do projecto poderá ser cancelada definitivamente, uma vez que o financiamento e os recursos logísticos têm prazos rígidos e que a perda da temporada reprodutiva de 2025, por exemplo, pode ser fatal para a continuidade do estudo genético.
Diante do cenário, o coordenador do Reduce faz um apelo à DNA para que destrave o processo e autorize a recolha de amostras, permitindo que a comunidade científica aproveite as últimas semanas da temporada de nascimento das tartarugas.
“Este tipo de inoperância institucional está atrasando a ciência, prejudicando a conservação e colocando em risco um projecto internacional que poderia beneficiar directamente Cabo Verde”, concluiu.
JR/AA
Inforpress/Fim
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