ENTREVISTA: Sucesso do Grupo Irmãos Correia está na união da família, diz o seu mentor (c/video)

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ENTREVISTA: Sucesso do Grupo Irmãos Correia está na união da família, diz o seu mentor (c/video)
09/10/25 - 01:15 am

*** Por Luís Carvalho, da Agência Inforpress ***

Cidade da Praia, 09 Out (Inforpress) – António Correia, o mentor do Grupo Irmãos Correia, uma das firmas mais possantes de Cabo Verde, considera-se um homem realizado, apontando a união familiar como a chave de todo o sucesso alcançado até hoje.

Além da união familiar, o Sr. Correia, como é conhecido, diz que qualquer um que trabalhe no sector empresarial tem que ter em mente o princípio de “trabalhar o máximo possível e gastar só o necessário”.

“Se hoje já ganhei vinte [contos, por exemplo], posso gastar quinze ou dezoito”, exemplifica, concluindo que, infelizmente, há muita gente que consome tudo o que ganha e, por isso, “as coisas caem”.

Para ele, a chave da vitalidade do grupo está na união familiar e na consciência e, acrescentou, “isto tem muito valor”.

“(…) Nós nos unimos, eu e todos os nossos irmãos, a nossa mãe também, trabalhamos praticamente dias e noites”, pontuou Sr. Correia.

Natural do Fogo, mais concretamente da localidade de Curral Grande, município de São Filipe, o mentor do Grupo Irmãos Correia trocou a sua ilha natal pela Cidade da Praia, porque, explica, depois de algumas análises chegou à conclusão de que, com a independência nacional, proclamada a 5 de Julho de 1975, na capital seriam instalados o Governo e as representações diplomáticas e, logo, as perspectivas de desenvolvimento eram superiores em relação às restantes ilhas.

Confessa que a sua vida empresarial surgiu da necessidade de sobrevivência, porque naquela altura não havia muito trabalho e existiam muitas dificuldades.

“Como sou o mais velho de todos os meus irmãos, pedi-os que viessem para a Praia e, logo, aceitaram”, afirma o Sr. Correia.

Reconhece, entretanto, o apoio de uma tia, que já vivia na Praia, que lhes ajudou a conseguir uma casa alugada no platô, mais concretamente na Rua Serpa Pinto, numa altura em que havia uma grande falta de habitações na capital. Foi no quintal desta moradia que iniciaram as suas actividades comerciais, tendo funcionado como armazém, até que construíram, na Fazenda, o primeiro prédio que considera ser “o pai de todos os outros”.

António Correia recorda-se, com alguma nostalgia, da casa da Rua Serpa Pinto, onde começou a vida empresarial do Grupo Irmãos Correia.

O facto de, na altura da sua chegada à Praia, haver muitos comerciantes de origem foguense, contribuiu também para seguir a vida empresarial.

“A Praia tinha, naquela altura, e ainda tem muitos comerciantes do Fogo. Eu pensei: nós também podemos tentar melhorar a [nossa] vida”, enfatizou Sr. Correia, ele que já estava habituado a uma vida “mais folgada, porque, sendo militar, o exército pagava razoavelmente bem, mais do que na vida civil”.

Por altura da proclamação da independência nacional, encontrava-se a cumprir o serviço militar no exército português. Foi dada a oportunidade para quem quisesse ficar em Cabo Verde ou partir para Portugal. Mas António Correia optou por ficar e não se arrependeu.

“Em nenhum momento me sinto arrependido. Sinto-me muito bem como estou”, comentou.

Perguntado se valeu a pena Cabo Verde se tornar independente da antiga potência colonizadora, Portugal, respondeu que sim.

“O primeiro valor é a dignidade dos cabo-verdianos e acho que isso vale muito”, indicou, acrescentando que quem viveu sob a dominação colonial sabe que “foi difícil”.

Antes de abraçar o mundo empresarial, este empreendedor foi também professor, assim como o seu irmão mais novo.

Aos 28 anos de idade rumou para a Cidade da Praia e não está arrependido.

“Foi a melhor decisão que eu tomei na minha vida”, congratula-se o empresário, que, entretanto, nunca se esquece da sua ilha do Fogo.

Em entrevista à Inforpress, explica como tudo começou para hoje ser um empresário de sucesso.

“Primeiro nós começámos a comprar em São Vicente e a vender em Santiago. São Vicente, na altura, era muito mais comercial do que Praia”, esclarece, acrescentando que conseguiam uma margem que lhes permitia vender ainda mais barato na capital.

Nos primeiros anos pós-independência, a São Vicente foi atribuído um plafond de importação maior do que a Praia, mas pouco tempo depois esta situação foi corrigida.

Como ainda os “Irmãos Correia” não eram importadores, e porque São Vicente tinha excesso de mercadorias, compravam os produtos nesta ilha e revendia-os na capital. 

“Nós íamos comprar em São Vicente e trazíamos para a Praia em condições de fazer forte concorrência em relação aos importadores da Capital”, lembrou o empresário António Correia.

Sem licença de importação, viram-se obrigados a comprar duas a terceiros, ou seja, a empresários que já não estavam interessados em importar.

Neste momento, além de importação, a firma Irmãos Correia dedica-se também à exportação da aguardente 11.11 e mais alguns produtos para o mercado dos Estados Unidos da América.

Instado se pensam em investir de novo no sector dos transportes marítimos, respondeu nesses termos: “Eu não lhe digo que vamos reativar esta ideia, mas morrer também não morreu. Está na nossa mente. A área marítima, digamos assim, não é nossa, nós não a dominamos”.

“Mas se aparecer alguém que esteja interessado e que perceba bem do assunto [transportes marítimos] e que nos inspire também alguma confiança, amanhã já começamos a discutir as condições”, frisou o homem que já é visto como um visionário empresarial.

A entrada nos transportes marítimos, garantiu António Correia, é um assunto que tem de ser “muito bem discutido”, mas é uma área que interessa ao grupo.

“Em tudo o que tem utilidade para Cabo Verde, desde que não nos dê prejuízo, estamos dispostos a nos meter”, acentuou, referindo-se à diversificação do investimento do grupo Irmãos Correia.

Aplicando o princípio de que não se deve pôr todos os ovos no mesmo saco, revelou que são accionistas de várias empresas cabo-verdianas.

Além do sector da imobiliária, o grupo tem igualmente investido na área do automóvel.

Possuem terrenos em várias ilhas à espera de oportunidade para investirem. É o caso da Boa Vista onde aguardam o melhor momento para construírem uma unidade hoteleira.

O grupo Irmãos Correia emprega actualmente mais de 200 trabalhadores, havendo, no entanto, altura em que este número se duplicou.

LC/ZS

Inforpress/Fim

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