Padre Constantina Bento alerta para a mercantilização do dia de Cinzas

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Padre Constantina Bento alerta para a mercantilização do dia de Cinzas
04/03/25 - 05:55 pm

Cidade da Praia, 04 Fev (Inforpress) - O padre Constantina Bento apelou hoje, na cidade da praia, à reflexão sobre o verdadeiro significado da imposição das cinzas, alertando para o risco de transformação deste acto religioso em um mero negócio.

"Hoje, em vez de um acto de partilha, vemos o aumento dos preços dos produtos alimentares, transformando o dia de Cinzas num negócio, em detrimento do seu verdadeiro significado espiritual e cultural", criticou.

Apesar disso, o padre reconheceu que ainda há pessoas que mantêm viva a essência desse dia, preparando refeições para pessoas em situação de vulnerabilidade. 

"Esse é o gesto mais autêntico da tradição na ilha de Santiago, resgatando o verdadeiro espírito de solidariedade e penitência que marcou a origem desta prática", ressaltou. 

Constantina Bento, que falava em declarações à Inforpress, lembrou que a prática das cinzas tem sólidas bases bíblicas, sendo um sinal de penitência e de reconhecimento das fragilidades humanas. Ele recordou o exemplo da cidade de Nínive, onde os habitantes, ao reconhecerem seus erros, cobriram-se de cinza em sinal de mudança e conversão.

"As cinzas representam um sinal de transformação, de preparação para a Páscoa. Para celebrar a festa da ressurreição de forma plena, é necessário reconhecer nossas limitações e abrir espaço para a graça divina", explicou o padre.

Segundo Constantina Bento, em Cabo Verde, a tradição da Quarta-feira de Cinzas incorporou elementos culturais específicos, sobretudo na ilha de Santiago.

Durante o período escravocrata, os senhores permitiam aos escravizados, neste dia, que usufruíssem de alimentos que cultivavam, que normalmente não tinham total acesso, como milho, feijão, couve, ovos e coco.

A Igreja interveio estabelecendo normas de jejum e abstinência, impedindo o consumo de carne. Com alternativa as pessoas consumiam peixe seco, que era preparado com antecedência. 

Esta prática tornou-se com o tempo um momento de solidariedade, em que os que tinham mais partilhavam com os mais necessitados.

Contudo, o padre lamentou que, nos dias actuais, o sentido original do gesto tenha se perdido, dando lugar à mercantilização. 

A festa de Cinza é uma tradição muito forte na ilha de Santiago onde é comemorada com muita fartura. 

TC/JMV

Inforpress/Fim 

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