
Mindelo, 06 Nov (Inforpress) – O promotor da Fazenda de Camarão pediu hoje ao ministro do Mar que “dê nacionalidade ao oceano Atlântico”, por entender que este pode representar a viragem de Cabo Verde para permitir que as pessoas sobrevivam como deve ser.
Nelson Atanásio fez este apelo ao apresentar o seu projecto durante o painel Aquacultura como uma actividade emergente em Cabo Verde e na África Ocidental, integrado na programação da 8.ª edição da Cabo Verde Ocean Week (Semana dos Oceanos de Cabo Verde).
“Vou pedir ao senhor ministro do Mar para que Cabo Verde dê a nacionalidade ao oceano Atlântico. Porque o oceano Atlântico, a água do mar, pode ser a viragem deste país para fazer peixe, para dessalinizar água e colocá-la nas montanhas, para descer e fazer agricultura, para a gente poder sobreviver como deve ser”, declarou a mesma fonte.
Sobre o projecto Fazenda de Camarão, Nelson Atanásio revelou, com a voz embargada e os olhos marejados de lágrimas, que há quarenta dias, antes da tempestade estava orgulhoso, porque a empresa produzia comida com a água do mar, o recurso que mais abunda em Cabo Verde.
Mas, a empresa, que contava com 80 trabalhadores e dez viveiros, tinha perspectivas de produzir 60 ou mais toneladas de camarão neste ano, ficou destruída.
“E eu preciso de 350 mil dólares (33.197.500 escudos) para pôr aquilo a andar. Eu vou arranjar esse dinheiro”, afirmou convicto.
Conforme Nelson Atanásio, a empresa foi criada para abranger sessenta por cento de mão-de-obra feminina, dada a escassez de emprego para mulheres na comunidade do Calhau.
Explicou que, quando iniciou o projecto, encontrou várias dificuldades para obter a autorização, devido à falta de entendimento entre os ministérios da Indústria e da Agricultura sobre a natureza da empresa.
Além disso, criticou os “custos proibitivos da electicidade” para fazer a bombagem de água do mar para produzir camarão, o preço de água potável para criar o ambiente necessário à produção de larvas e principalmente a falta de financiamento bancário.
“Em Cabo Verde há um sector bancário, mas é preciso que façamos pressão para que seja criada uma instituição capaz de financiar o desenvolvimento desta terra, porque os banqueiros não o farão. Metem o dinheiro no bolso e financiam coisas mais fáceis, como cerveja e whisky”, criticou, reforçando que, enquanto isso, o trabalho e a indústria para o desenvolvimento do país “ficam para depois”.
Segundo o promotor, se não se conseguir suprir o financiamento para esses negócios, seja na aquacultura, na agricultura ou noutro sector, não haverá desenvolvimento.
Nelson Atanásio também se queixou da falta de logística para poder alcançar outros mercados. Explicou que a sua ambição é fornecer camarão para o mercado cabo-verdiano e que, neste momento, vende para São Vicente, Santo Antão e São Nicolau, mas não para Santiago, que é o maior mercado, porque não há logística por falta de barcos.
A mesma fonte lembrou também que, inicialmente, enfrentaram dificuldades na produção de larvas, mas actualmente são autossuficientes e capazes de vender larvas para Cabo Verde e outros países de África.
Outra valência, citou, é o repovoamento dos mares de Cabo Verde, porque o projecto oferece a possibilidade de produzir espécies através da aquacultura e, depois, transferi-las para o mar.
CD/ZS
Inforpress/Fim
Partilhar