
Ribeira Brava, 27 Nov (Inforpress) – O escritor e professor universitário João Lopes Filho foi homenageado na noite de quarta-feira, 26, na localidade da Fajã, um gesto que, segundo o próprio, representa “um profundo reconhecimento” pelas raízes da sua carreira.
A cerimónia, marcada por depoimentos de antigos alunos, recordou o período em que João Lopes Filho, então com apenas 18 anos, iniciou a sua vida profissional como professor de “posto de escola”, uma categoria que já não existe.
Em declarações à Inforpress, João Lopes Filho contou que na época, sem formação formal, mas movido pelo desejo de estudar em Portugal e sem meios financeiros para tal, encontrou na Fajã a porta de entrada para concretizar esse objectivo.
“Trabalhei aqui dez anos. Depois fui para Portugal estudar com o dinheiro que ganhei. Estou muito reconhecido, porque, geralmente, quando uma pessoa vai a um sítio, é esquecida. Aqui, não, aqui lembram-se de mim com amizade e carinho”, afirmou, emocionado.
Segundo o mesmo, durante o período em que lecionou na ilha, distinguiu-se não apenas como professor do ensino primário, mas também como pioneiro na formação de adultos, tendo aberto aquela que descreve como “a primeira escola de formação de adultos” em Cabo Verde.
Conforme contou, muitos habitantes aprenderam a ler e a escrever graças ao seu trabalho, razão pela qual disse sentir-se “ligado para sempre” a esta sociedade.
Questionado sobre o significado da homenagem, o professor sublinhou tratar-se de um gesto que ultrapassa a esfera social, afirmando que “isto já é amizade, é algo muito especial”.
Sobre São Nicolau, afirmou tratar-se da sua terra de referência, lembrando que procura sempre “levantar o nome da ilha”, através da escrita e das diversas obras que já publicou.
A homenagem surgiu a partir de uma iniciativa de José Cabral, que explicou que a escolha da Fajã não foi por acaso, mas sim por representar o ponto de partida da trajetória académica e profissional de João Lopes Filho.
“Ele morou na Fajã durante cerca de dez anos e iniciou a sua carreira exactamente aqui, como professor de posto escolar. Descobri que tinha muitos alunos desde os anos 50 e 60, todos com grande admiração por ele. Fez todo o sentido fazer esta homenagem a um dos maiores intelectuais cabo-verdianos, alguém que tanto fez pela cultura de São Nicolau e pela cultura de Cabo Verde”, afirmou.
O organizador sublinhou que João Lopes Filho é reconhecido, inclusive em Portugal, como um dos mais destacados professores na área da Antropologia.
Por isso, disse, homenagens em vida devem ser regra e não exceção, mas, em Cabo Verde, “temos a mania de esperar as pessoas morrerem para as homenagearmos”.
José Cabral afirmou ainda que este gesto deve servir de incentivo às autoridades locais e nacionais para descentralizar eventos e valorizar as figuras da diáspora e da ilha enquanto ainda estão vivas.
O organizador aproveitou para recordar outras personalidades merecedoras de reconhecimento em vida, citando, entre outros, o músico Jaime, do conjunto musical “Os Tubarões”, e apelou para que o país mude de atitude.
Hoje será apresentada a biografia de João Lopes Filho, na cidade da Ribeira Brava.
WM/AA
Inforpress/Fim
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