Mindelo, 08 Jul (Inforpress) – O académico português Sampaio da Nóvoa, autor do elogio académico a Pedro Pires na outorga do título honoris causa, revelou “admiração” pelo homenageado e “gratidão comum” por uma vida, por uma história “que mudou Cabo Verde e Portugal”.
Sampaio da Nóvoa, académico e político português de ideologia esquerda, falava na cerimónia de atribuição do título de doutor honoris causa ao antigo Presidente da República, Pedro Pires, pela Universidade do Mindelo (Uni-Mindelo), a sexta distinção da história da instituição.
Escolhendo as próprias palavras do homenageado, “sob o olhar da esperança” para caracterizar o seu percurso, Sampaio da Nóvoa afirmou que a vitória na luta pela independência foi decisiva também para os portugueses, pois nela está grande parte da origem da Revolução dos Cravos, dia maior da liberdade de Portugal.
“Foi o fim do império colonial que arrastou o fim do regime político instalado em Portugal. O comandante Pedro Pires é o rosto da luta contra o colonialismo, é a voz da Independência de Cabo Verde, junto com outros rostos e com outras vozes. Não preciso de vos dizer, mas preciso vos dizer da importância do seu papel na libertação do meu próprio país”, afirmou a mesma fonte, que quis deixar esse “testemunho de reconhecimento e de gratidão”.
O mesmo lembrou que hoje, 50 anos depois da independência, Cabo Verde é uma democracia, imperfeita, segundo o Índice Global da Democracia.
Mas está no mesmo nível de Portugal, e acima da média europeia, situando-se na posição 35.º entre 167 países.
Referiu ainda que Cabo Verde é o segundo país africano neste índice, com melhor classificação, praticamente na mesma posição do Botswana, em 33.º, e acima de todos os outros países africanos.
“Falar de desenvolvimento, da democracia em Cabo Verde é reconhecer o imenso papel do comandante Pedro Pires”, sustentou a mesma fonte para quem Pires é um institucionalista, que lutou e luta pela paz dentro e fora do seu país e que chega aos 91 anos a dizer que “tem mais dúvidas do que certezas, mas que é preciso arriscar e até correr o risco de falhar”.
Segundo o padrinho do homenageado, Germano Almeida, Pedro Pires é “um dos símbolos da independência nacional e não é exagero dizer que ele está na origem da revolução que vem acontecendo no país desde 1975”.
“Pedro Pires merece estar consagrado por direito entre os melhores filhos do nosso povo não por qualquer privilégio particular, mas antes pela abnegação, pela entrega e pela e desinteressada aos interesses do povo de Cabo Verde”, declarou Germano Almeida que parafraseou o poeta português Luís Vaz de Camões dizendo “bendita pátria que tal filho tem”.
O mesmo também vincou a importância do 05 de Julho, dia da independência nacional afirmando que essa é sem qualquer dúvida a data maior do calendário nacional.
“Não há nenhuma outra data que sequer se aproxima em termos de significado e importância. Sobretudo porque foi um tempo em que acreditamos em que todos os sonhos eram realizáveis numa terra onde a abnegação da larga maioria dos seus filhos se mostrava contagiosa”, afirmou. Referiu que “só através de uma grande obra ficção se poderá compreender a gesta heroica e ditosa que foram os primeiros anos da independência de Cabo Verde”.
Segundo o reitor da Universidade do Mindelo (Uni-Mindelo), Albertino Graça, Pedro Pires conquistou por mérito próprio direito às mais altas honrarias do Estado. Por isso, sintetizou, ao outorgar-lhes as insígnias doutorais, a Uni-Mindelo reconhece não apenas o seu percurso como combatente de liberdade, estadista, mas também o impacto profundo que ele teve na vida de gerações e na edificação do estado de Cabo Verde, hoje.
“Ele personifica virtudes e qualidades excepcionais que lhe permitiram ao longo de 25 anos de serviço público superar desafios políticos, económicos e sociais, tornando-se um farol de inspiração. Esta distinção é um gesto de gratidão ainda que modesta, perante a grandiosidade de um homem que deixou uma marca indelével na história contemporânea de Cabo Verde”, afirmou.
O discurso de Albertino Graça foi seguido da apresentação da música “Segred d’ Monte Cara”, cuja letra e composição foram feitas por José Luís Ramos, conhecido como Pinúria, propositadamente para a cerimónia, na qual também se ouviu a música “05 de Julho”, de Manuel d’Novas.
O homenageado, Pedro Pires, considerou que a “importante representação” das universidades portuguesas no acto "legitimam e dão valor" à decisão da Universidade do Mindelo.
“Sinto-me honrado e reconfortado por esta distinção tendo em conta o momento simbólico escolhido para tal”, disse a mesma fonte.
Pedro Pires também rememorou os principais encontros que teve com a cidade do Mindelo, lembrou o seu percurso enquanto estudante e como combatente e também falou do Estado pós-independência, da governação na primeira República e das políticas públicas implementadas para superar as crises e ainda deixou algumas sugestões para o país nas mais variadas áreas, principalmente a educação.
“Estamos desafiados à reflexão sobre onde nos encontramos, para onde nos querem conduzir e quais os riscos existenciais subsequentes”, afirmou, lembrando da situação mundial “critica e assustadora” e insurgindo-se ao ódio e à desumanização, para aconselhar ao cultivo de valores, da ética, do respeito pelo outro em benefício do futuro comum.
CD/AA
Inforpress/Fim
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