Antigo presidente da CMP defende acto solene no Parlamento para assinalar dia do Desastre da Assistência

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Antigo presidente da CMP defende acto solene no Parlamento para assinalar dia do Desastre da Assistência
08/07/25 - 03:34 pm

Cidade da Praia, 08 Jul (Inforpress) – O antigo presidente da Câmara Municipal da Praia Jacinto Santos defendeu hoje que a data do Desastre da Assistência deveria ser assinalada com um acto solene no Parlamento, além de uma “ampla divulgação” nas escolas e universidades.

“As fomes em Cabo Verde marcaram, em muito, a maneira de ser do cabo-verdiano”, disse Jacinto Santos, ao ser abordado pela Inforpress sobre o 20 de Fevereiro de 1949, quando um barracão ruiu na localidade da Várzea da Companhia, na cidade da Praia, matando centenas de pessoas que aguardavam por uma única refeição quente do dia.

Citando Juvenal Cabral, no livro de José Vicente Lopes, “um corpo que se recusa a morrer”, o antigo autarca praiense disse que o Desastre da Assistência, na altura, foi “a mais horripilante catástrofe” de todos os tempos do arquipélago.

Para Santos, o livro de José Vicente Lopes é uma “boa base” para se fazer um trabalho de divulgação junto das novas gerações, que podiam ser incentivadas a publicar artigos sobre o tema das fomes em Cabo Verde.

Na sua perspectiva, em cada 20 de Fevereiro dever-se-ia organizar uma marcha evocativa em direcção ao monumento erguido em homenagem àqueles que morreram naquele fatídico dia para deposição de flores.

Segundo ele, o referido monumento, na rotunda de acesso ao platô, para quem vem de Achada de Santo António, de autoria do arquitecto Carlos Hamelberg, passa “muito despercebido e, às vezes, só a parte estética que é vista”.

“Muitos não sabem a razão da construção daquele monumento, na rampa do Cais São Januário”, lamentou Jacinto Santos, acrescentando que nesse dia 20 de Fevereiro se devia declamar poemas e evocar também nomes de pessoas, como Bento Levy, Adriano Duarte e Sousa Santos que denunciaram o descaso da parte das autoridades coloniais em relação a Cabo Verde.

Estas pessoas, refere Jacinto Santos, passam despercebidas, o que dá a ideia de que “temos algumas dificuldades em lidar com a nossa memória”.

“Para José Vicente Lopes, o Desastre da Assistência foi um ponto de partida, porque permitiu uma tomada de consciência de que, afinal, o problema de Cabo Verde não podia ser solucionado, no quadro da integração no Império de Portugal continental”, frisou Santos, para quem o Desastre da Assistência despertou uma consciência que levou a tomada de posições de que a solução de Cabo Verde só passaria pela sua independência, que aconteceu em 1975.

Durante as fomes que assolaram o arquipélago, milhares de cabo-verdianos nunca souberam onde é que os seus entes queridos foram enterrados. Muitos corpos apodreceram nas achadas, nos covões e nas furnas à beira mar.

LC/HF

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