Santo Antão: Moradores de Chã das Furnas dizem-se “abandonados e ignorados” pelos poderes local e central (c/áudio)

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Santo Antão: Moradores de Chã das Furnas dizem-se “abandonados e ignorados” pelos poderes local e central (c/áudio)
29/07/24 - 12:24 pm

***Por: Lucilene Fernandes Salomão, da Agência Inforpress***

Ribeira Grande, 29 Jul (Inforpress) - Os moradores da pequena localidade de Chã das Furnas, na Costa Leste, Ribeira Grande (Santo Antão) expressaram à Inforpress que se sentem “abandonados e ignorados” pelos poderes local e central, “numa luta contra condições precárias”.

Alberto Lopes, que falou em nome da comunidade, descreveu a situação dos moradores da comunidade de Chã das Furnas como “desesperadora”, tendo os mesmo que “lutar contra condições precárias” e a “falta de apoio”, tanto do poder local quanto do Governo.

Alberto Lopes salientou que a principal via de acesso a Chã das Furnas é uma estrada íngreme e degradada, que muitos consideram “uma verdadeira armadilha”.

O piso da via, segundo a mesma fonte, encontra-se em “péssimas condições” e a ausência de muros de protecção representa um risco constante para os moradores.

"Os moradores andam com 'cruz credo na boca' e dizem que temem pela segurança nas suas viagens diárias”, concretizou.

Além da estrada, Alberto Lopes apontou que os desafios em Chã das Furnas incluem o estado das habitações.

É que, conforme o mesmo, cerca de 90 por cento (%) dos tectos das casas estão “em perigo iminente de desabamento” e apesar da “gravidade da situação”, tanto a câmara municipal como o Governo, segundo o morador, parecem “indiferentes” às necessidades da comunidade.

"É triste ver nossa casa em ruínas e saber que ninguém se importa", lamentou.

Segundo Alberto Lopes, o jardim municipal, que é uma das poucas instalações públicas na área, está ameaçado de fechar as portas, devido ao baixo número de crianças.

Uma situação que, alegou, vai representar “mais um golpe” para a comunidade, que já é marcada pela escassez de recursos.

"Mesmo com poucas crianças, o jardim deve funcionar. Manter nossos filhos fora da comunidade é mais caro e complicado", afirmou, lembrando que a falta de infraestrutura também afecta a juventude local.

Pois, conforme a mesma fonte, não há espaços desportivos, praças ou qualquer forma de entretenimento para os jovens.

Sobre a iluminação pública, quando existe, segundo o morador, é ineficaz, deixando a área frequentemente no breu.

Adicionalmente à problemática da iluminação pública, Alberto Lopes destacou que a “ausência de saneamento básico é alarmante”, com apenas dez das mais de 50 casas na zona com acesso a uma casa de banho.

A “crise de água” em Chã das Furnas, segundo Alberto Lopes, é “severa”, já que o recurso é captado de uma nascente e distribuído através de um sistema “rígido e ineficiente”.

A água, conforme a mesma fonte, é dividida semanalmente entre os residentes, resultando numa situação em que muitos têm acesso apenas a uma quantidade mínima.

"Estamos vivendo uma situação desumana", expressou, indicando que, quanto à comunicação ela é também precária, pois, sintetizou, a falta de sinal de telefone e dificuldades com a televisão limitam ainda mais o acesso dos residentes à informação e ao mundo exterior.

Alberto Lopes disse que a sensação de abandono é acentuada pela ausência de representantes políticos.

Segundo o mesmo, tanto os deputados nacionais, o primeiro-ministro e o presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, nunca visitaram Chã das Furnas, e a comunidade se sente “esquecida e desamparada”.

"Na época das eleições, somos lembrados, mas fora isso ninguém se importa", criticou.

E, neste sentido, o morador apelou para “atenção e acção” tanto do poder local quanto do central, pois os moradores da comunidade de Chã das Furnas “estão desesperados” por ajuda e por uma mudança real.

Por isso convidou a autarquia e o Governo a visitarem a localidade para testemunharem a “dura realidade” que enfrentam e para começar a trabalhar em soluções concretas.

"Merecemos a mesma atenção que as outras comunidades da ilha e do país. Chã das Furnas é um retrato de uma parte de Cabo Verde que ainda aguarda o desenvolvimento e a atenção que lhe foram prometidos. É hora de que as autoridades se mobilizem e façam a diferença na vida dessas pessoas que há muito esperam por justiça e dignidade”, enfatizou.

A Inforpress, até o fecho da reportagem, tentou um posicionamento do presidente da Câmara Municipal da Ribeira grande, Orlando Delgado, sobre a situação dos moradores de Chã das Furnas, mas as tentativas não resultaram, pelo que voltaremos ao tema assim que obtivermos o posicionamento da autarquia.

LFS/AA

Inforpress/Fim

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