***Por: Sandra Custódio, da Agência Inforpress***
Cidade da Praia, 15 Jul (Inforpress) – A professora de Geografia, aposentada na docência é, actualmente, membro da Direcção Nacional do Movimento para a Democracia (MpD), mas já foi secretária-executiva e secretária-geral do partido, gosta de estar na política e define-se como uma mulher tolerante.
Hoje a conversa é com Filomena Delgado que nasceu e cresceu na cidade da Praia, onde até agora vive, na rua Sá da Bandeira, actualmente, Avenida Amílcar Cabral.
Abriu as portas da sua casa para receber a equipa da Inforpress, com um largo sorriso, mostrando boa disposição para a entrevista, onde falou um pouco sobre a sua vida, o outro lado da Filomena Delgado, enquanto pessoa e ser humano, numa prosa divertida, lembrando a sua infância e a fase de maturidade, a fase do desenvolvimento humano que segue a juventude e precede a velhice, em que o indivíduo já está totalmente desenvolvido física e intelectualmente.
Passou toda a sua infância e juventude no Platô, ou “Riba Praia”, como se dizia antigamente, zona muito sossegada, conforme disse, com muitos vizinhos, muitas crianças da sua idade com quem brincou durante muito tempo.
“Uma infância com muita tranquilidade”, considerou, não se lembrando, entretanto, qual seria a brincadeira ou brincadeiras que mais gostava de fazer, mas mais para lá, na sua adolescência, juventude, quando andava no liceu, era ir à praça, antes e depois do jantar ou circular nos passeios do platô com as amigas que andavam sempre juntas, algumas da mesma idade e outras um pouco mais velhas.
“Foram de facto bons momentos. Já na juventude eram também idas à praça, conversas com os amigos, ler, porque não havia televisão, tinha mais tempo para brincadeiras e troca de impressões sentados à porta das casas da vizinhança, contando histórias e anedotas… quer dizer, era uma época de muito mais convívio do que actualmente”, assinalou.
Filomena Delgado fez o ensino secundário no Liceu Adriano Moreira, hoje Liceu Domingos Ramos, depois em 1972 foi para a universidade em Lisboa fazer licenciatura em Geografia, tendo começado a trabalhar relativamente cedo, aos 23 anos, a leccionar Geografia no liceu onde estudou, logo depois que veio do curso, em 1977.
Mas antes, em 1991 quando saiu do Liceu Domingos Ramos foi trabalhar no Ministério da Educação onde teve a oportunidade de estar em várias funções, tendo ido também para o Parlamento.
Enquanto professora, alude com satisfação que pode fazer uma exposição pelos muitos alunos que teve e com funções diversas actualmente, sendo para ela, “gratificante” acompanhar e ver o percurso dos seus alunos ao longo dos anos.
Conta que a ideia de ser professora tem a ver um pouco com a experiência de casa, pois a tia-avó, a mãe e uma prima, sempre acolhiam meninos para os ensinar a conhecer primeiramente as letras do alfabeto para que, depois, fossem formadas palavras, pelo que houve sempre essa ligação com a educação.
Quando terminou o 5.º ano dos liceus, na altura havia as alíneas para Letras e Ciências, como não tem jeito para desenho teve de ir para um grupo que não tinha essa disciplina e, entre as muitas possibilidades de curso, pensou também em fazer Direito, mas acabou por decidir para Geografia.
“A minha alínea era a alínea ‘c)’ que era praticamente igual à alínea F, a alínea de ciências, que tinha todas as disciplinas nesse grupo à excepção de Desenho. Ser professor foi uma boa experiência, de facto. Aprendi um pouco com os meus alunos a melhor forma de leccionar, também com alguns colegas já com mais anos de experiência”, manifestou.
A professora que veio experimentar também a vida política, identificando-se com os ideais do Movimento para a Democracia (MpD), neste momento é membro da Direcção Nacional, mas já foi secretária-executiva e secretária-geral do partido “ventoinha”.
Entra na política, na era colonial, através da convivência com amigos, alguns que vinham do curso, mas na altura, lembra-se que não se entrava muito facilmente em conversas de âmbito político e alguns dos amigos foram presos.
“Era época colonial. Foi uma oportunidade. Ainda não estava na política, mas ter vivido o 25 de Abril em Portugal marcou-me um bocado. Cheguei a Lisboa um ano antes do 25 de Abril de 1974, estava no segundo ano e nós vivemos todo aquele período muito intenso, de muita actividade política em Portugal”, recordou.
Depois, com o 25 de Abril, conta que houve um movimento que juntou todos os estudantes das várias colónias, e começaram a fazer reuniões diariamente, à noite, que demoravam às vezes até ao amanhecer.
“Então, houve alguma experiência política nessa altura. Entretanto, no liceu, em 1991, quando com a abertura política o MpD ganhou as eleições legislativas fui convidada para trabalhar na Inspecção-Geral da Educação, depois passei para a Direcção-Geral do Ensino, já estava no Parlamento. Depois, fui convidada pelo MpD para integrar as eleições legislativas de 1995”, conta.
“Gosto de estar na política. É uma forma de participar no desenvolvimento do país, darmos a nossa contribuição. Tive essa oportunidade e é sempre bom”, reiterou Filomena Delgado que já assumiu várias funções dentro do partido em que milita.
Habituada à vivência no platô desde a infância e até à idade em que agora se encontra, Filomena Delgado, para quem seria difícil ir viver noutro sítio, viu-se, entretanto, obrigada a sair da zona e ir morar em Palmarejo, por cerca de um ano, quando teve que demolir a casa para reconstruí-la.
Foi casada durante mais de 25 anos, neste momento no estado de viúva, Filomena Delgado tem duas filhas, Lenira e Janice, que lhe deram dois netos, sendo uma menina e um rapaz.
Apesar da viuvez disse não se sentir só porque teve sempre a sua autonomia, cuida da mãe de 102 anos, quase a fazer 103, e tem também a companhia das filhas que moram no mesmo prédio, em andares diferentes.
“Conviver com a viuvez não foi tão complicado, porque habituei-me a resolver os meus assuntos, ter a minha própria autonomia… claro que há outros aspectos que são afectados, mas a parte administrativa, financeira, estava organizada e continua organizada. Sou uma pessoa com alguma autonomia, consigo me movimentar perfeitamente sozinha, não tive problemas. A gente tem de encarar as situações e conseguir adaptar-se às mudanças”, notou.
Considerando-se uma pessoa tolerante, que consegue lidar bem com as pessoas, a professora de Geografia que gosta de estar na política, confessa que não tem apetência nem paciência para a cozinha, tão pouco para as lides da casa, e muito menos para passar roupa a ferro, fazendo um uff… quando se lhe perguntou sobre isso.
“Não, não gosto de cozinhar, quando necessário faço, mas não é que tenha um gosto especial por cozinhar. Tenho muitas outras coisas mais interessantes para fazer do que isso. Mas sempre que necessário… que remédio, né? A parte doméstica não é a minha área principal”, confessou entre gargalhadas, referindo ainda que não estima jantares convívio onde cada pessoa leva um prato, preferindo antes pagar um valor e tudo fica resolvido.
Com tempos livres um pouco limitados, Filomena Delgado disse, entretanto, que tira sempre algum momento para estar com os amigos, ir almoçar ou jantar fora, praticar uma boa leitura, ler jornais… e neste momento está com uma série de livros acumulados para ler porque o tempo fica muito reduzido e preenchido.
Se o tempo voltasse para trás, embora não coloque essa hipótese, mas nessa suposição, com uma vida cheia de actividades, disse que se calhar tiraria mais tempo para passear.
SC/HF
Inforpress/Fim
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