Lisboa, 16 Jul (Inforpress) – Moradores cabo-verdianos estão entre as famílias despejadas do Bairro do Talude Militar, em Loures, na Grande Lisboa, na segunda e terça-feira, confirmaram à Inforpress conterrâneos que residem no mesmo bairro.
Os despejos, iniciados na segunda-feira, foram suspensos na terça-feira após uma decisão do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa que decretou a interrupção das demolições.
A Câmara Municipal de Loures ordenou a demolição de 64 habitações, ou “barracas de lata”, construídas pelos próprios moradores no Talude Militar, onde vivem cerca de 161 pessoas, incluindo idosos, mulheres, homens e crianças.
Ao todo, foram demolidas 55 construções, sendo 51 no primeiro dia e quatro na manhã de terça-feira.
Em declarações à Inforpress, os cabo-verdianos Manuel Lopes e “Filomena”, que pediu para não ser identificada, lamentaram a situação dos seis a sete conterrâneos que viram as suas barracas serem deitadas abaixo.
Segundo estes moradores, apenas um dos cabo-verdianos afectados informou ter arrendado um quarto na Amadora, e quanto aos restantes, desconhecem se foram para casas de amigos, familiares ou espaços cedidos pela autarquia liderada pelo socialista Ricardo Leão.
No entanto, Manuel Lopes e Filomena acreditam que os despejados vão voltar, tendo em conta que deixaram seus pertences e a suspensão das demolições pelo Tribunal.
Contrariamente ao Manuel Lopes, que vive neste bairro há seis anos, Filomena reside em uma casa com acesso à água e energia eléctrica há mais de 26 anos.
“Não tenho que me queixar de nada, porque, quando cheguei em 1999 encontrei o meu pai [falecido] com a casa que construiu em 1965, legalizada, com água e energia eléctrica”, revelou, admitindo que “não é fácil viver” neste bairro perto de Catujal com estradas de terra batida e em péssimas condições.
A cabo-verdiana, natural de Tarrafal de Santiago, de 49 anos, fez saber que tem oferecido água para vizinhos, tanto conterrâneos e não só, para que as crianças não fiquem sujas e com sede nas ruas.
“Viver aqui é um sacrifício, não há água e nem energia. Temos que carregar água à cabeça e procurar um balde na casa dos vizinhos e roubar luz nos postes. Temos que lutar com a vida (…)”, contou Manuel Lopes, de 66 anos, natural de Santa Catarina de Santiago.
FM/CP
Inforpress/Fim
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