Cidade da Praia, 16 Jul (Inforpress) – O especialista em movimentos migratórios Sami Naïr alertou hoje em Tenerife, Canárias, que as migrações africanas têm origem em desigualdades políticas e comerciais profundas entre Europa e África, associadas ao fracasso na construção de Estados de direito.
Durante o seminário “Mitos, realidades e desafios da migração africana”, no âmbito das celebrações do Dia de Mandela, o especialista sublinhou que a maioria dos fluxos migratórios “não cai do céu”, sendo consequência directa das assimetrias estruturais entre os dois continentes.
“As migrações resultam directamente dessas desigualdades, não é um acaso. Há uma causa que está nas desigualdades entre os dois continentes”, afirmou, referindo-se ainda às crises políticas e à fragilidade institucional em muitos países africanos.
Para Sami Naïr, a África continua a ser “objecto da história” e não sujeito dela, estando o seu futuro muitas vezes condicionado por potências externas.
Chamou ainda atenção para o medo identitário que, conforme disse, marca a política migratória europeia.
“Os europeus têm medo de perder a sua identidade, a sua cultura, a sua língua. Esse é o grande problema que está por detrás de muitos discursos de rejeição”, observou.
Sami Nair afirmou que a Europa vive um “inverno demográfico” e que, ironicamente, a juventude migrante, especialmente africana, é vista como uma ameaça quando, na verdade, representa uma oportunidade.
“Jovens imigrantes chegam em idade activa, sem que tenhamos investido na sua educação ou saúde, e podem contribuir com mais de 30 anos de trabalho. Não só não custam, como também aportam verdadeiramente aos países europeus”, sustentou.
O professor destacou que, apesar da diversidade do continente africano, essa realidade ainda é pouco conhecida e valorizada na Europa.
A conferência integrou o programa do CampusÁFRICA, uma iniciativa internacional dedicada à reflexão sobre os desafios africanos no contexto global.
O Campus África é um programa internacional da Universidade de La Laguna (ULL), em Tenerife, nas ilhas Canarias.
A Primeira edição remonta a 2014, com edições subsequentes em 2016, 2018 e 2021.
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Inforpress/fim
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