
Cidade da Praia, 03 Dez (Inforpress) – O Presidente da República, José Maria Neves, disse hoje que não é admissível que se continuem a autorizar loteamentos em áreas de risco, nomeadamente nos leitos das ribeiras, onde a natureza sempre reclamará o seu espaço.
“Não é compreensível que projectos previstos nos planos, espaços verdes, praças, equipamentos e públicos sejam mutilados ou sacrificados em nome de outros interesses que nada têm a ver com o bem-estar colectivo”, criticou o chefe de Estado.
José Maria Neves fez estas considerações no acto de abertura do VI Seminário Internacional da Academia das Escolas de Arquitectura e Urbanismo de Língua Portuguesa (AEAULP), sob o lema “Arquitectura em Diálogo”, que decorre na cidade da Praia até quinta-feira, 05.
Conforme referiu, “não é aceitável que bairros concebidos para pequenas moradias” sejam posteriormente ocupados por edifícios de vários andares, “submetendo as vias, as redes de água e esgoto a pressões para as quais nunca estiveram dimensionadas”.
Para o Presidente da República, importa refletir sobre a responsabilidade das instituições neste quesito.
"Tanto o poder central como o poder local têm parcelas complementares na construção do ordenamento do território”, indicou, acrescentando que a “tentação de ceder perante interesses momentâneos produzem danos duradouros”.
Neves referiu-se ainda à incapacidade de garantir o cumprimento das regras.
“A fiscalização urbanística, quando frouxa ou intermitente, abre espaço a desigualdades, inseguranças e distorções”, sublinhou o Presidente da República.
Apelou, por isso, ao reforço de uma “cultura de respeito pelo espaço público e pelo planeamento”, porque, realçou, uma cidade “não é um aglomerado ocasional de decisões individuais, mas um organismo colectivo que se constrói diariamente e que afecta a vida de todos”.
Dirigindo-se aos arquitectos e aos estudantes do sector, enfatizou que no mundo actual, a arquitectura é cada vez mais chamada a responder a problemas complexos, mudanças climáticas, mobilidade urbana, exclusão social, vulnerabilidades territoriais, resiliência, economia circular, entre tantos outros.
Salientou que Cabo Verde, ao longo das últimas décadas, tem procurado construir um percurso de modernização que se reflecte também nas suas cidades, nos seus espaços públicos, nas suas infraestruturas e nas suas habitações.
Igualmente, o chefe de Estado referiu que nesse processo o arquiteto cabo-verdiano desempenha “um papel crucial”.
“É ele [o arquitecto] quem traduz as aspirações de uma sociedade em crescimento, quem procura equilibrar o dial estético com o possível técnico e financeiro”, vincou José Maria Neves, lembrando que é o arquitecto quem enfrenta muitas vezes as tensões entre a visão profissional e as exigências políticas, económicas ou comunitárias.
Chamou a atenção para a necessidade de haver “mais coerência” entre o que se projeta e o que efectivamente se constrói.
LC/AA
Inforpress/Fim
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