Lisboa, 22 Out (Inforpress) – O cabo-verdiano Odair Moniz morreu na madrugada desta segunda-feira depois de ter sido atingido a tiros pela PSP, no Bairro da Cova da Moura, situação que gerou uma onda de contestação no bairro de Zambujal, onde residia.
A vítima de 43 anos, cozinheiro e pai de três filhos, acabou por falecer no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, para onde foi socorrida depois de ter sido baleada pela Polícia de Segurança Pública (PSP), segundo comunicado oficial da polícia, por ter resistido a uma ordem policial e ter avançado com uma arma branca sobre uma patrulha.
“Foi dado conhecimento ao Ministério Público e à Polícia Judiciária que se deslocou ao local da ocorrência. Foram realizados procedimentos de preservação e de gestão do local do crime e seguir-se-ão outras diligências investigatórias junto dos polícias da PSP e de testemunhas, para apurar as circunstâncias que originaram esta ocorrência”, lê-se no comunicado oficial.
Um inquérito criminal e disciplinar foi aberto, ordenado pela ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, e a Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) está a investigar o ocorrido, mas na noite desta segunda-feira, os moradores do Zambujal, bairro do concelho da Amadora, onde residem milhares de cabo-verdianos e seus descendentes, incendiaram caixotes de lixo e carros, e atiraram pedras, em represália.
A SOS Racismo condenou hoje a morte na Cova da Moura, bairro também da Amadora, e criticou a PSP, afirmando que “Odair Moniz junta-se à longa lista de pessoas negras mortas às mãos da polícia de segurança pública”.
“Sua morte acontece num contexto político de exacerbação do discurso de ódio e de um securitarismo estigmatizante dirigido às comunidades negras”, afirmou a associação antirracismo, em comunicado, acrescentando que em nenhum dos casos de brutalidade policial que resultaram em mortes de cidadãos negros, racializados, “a PSP nunca foi convincente sobre as condições e motivos destas mortes”.
O Movimento Vida Justa também já contestou a versão da polícia exigindo exige uma comissão independente para “investigar as mortes em circunstâncias estranhas que ocorrem na periferia” de Lisboa.
Conforme o comunicado oficial da polícia, antes dos disparos, o suspeito, que estava a ser perseguido pelas autoridades, entrou em despiste e abalroou vários veículos, e os agentes viram-se forçados a disparar porque o mesmo desobedeceu a uma ordem policial e tentou ameaçá-los com uma arma branca.
Hoje, Zambujal amanheceu aparentemente calma, mas agentes da PSP, que na noite desta segunda-feira e madrugada de hoje cercaram o bairro, continuam no local a acompanhar a situação.
DR/CP
Inforpress/Fim
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