Lisboa, 26 Out (Inforpress) – Milhares de pessoas deslocaram-se hoje ao centro de Lisboa para participarem na manifestação convocada pelo Movimento Vida Justa para reclamar justiça pela morte do cabo-verdiano Odair Moniz, baleado pela polícia na segunda-feira, na Cova da Moura, Amadora.
A manifestação “Sem justiça não há paz”, estava marcada a partir do Marquês de Pombal, até à Assembleia da República, mas a organização teve que alterar o percurso para Marquês de Pombal até Praça dos Restauradores, porque o partido da extrema direita Chega, marcou uma manifestação no mesmo horário, com destino também à Assembleia da República, partindo da Praça do Município, “em defesa da polícia".
A deliberação do Vida Justa foi tomada depois da decisão das autoridades de permitir que o Chega termine a sua contramanifestação no mesmo local da manifestação “Sem justiça não há paz”.
“Estamos cientes que o Chega, que defende que Portugal estaria melhor se os polícias matassem mais pessoas, está interessado em criar incidentes, mas a manifestação dos bairros é pacífica e responsável, mesmo quando as autoridades não o estejam a ser”, disse Flávio Almada do Movimento Vida Justa.
Mesmo com a mudança do itinerário, as pessoas responderam à chamada do Movimento Vida Justa e marcharam até aos Restauradores, “por justiça para Odair Moniz, por bairros sem violência policial e por justiça social para as pessoas dos bairros”.
Para além dos cabo-verdianos e cidadãos da Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), também lá estavam portugueses, pessoas de outros países da Europa, e também asiáticos e do continente americano.
“É preciso fazer justiça e condenar a morte de Odair Moniz pela polícia. Infelizmente não é caso único. Há demasiados mortos nas nossas comunidades. É preciso acabar com a violência e a impunidade policial nos bairros. É preciso que as pessoas deixem de ser tratadas como não-cidadãos que podem ser agredidos e mortos”, justificou.
Os participantes também exigiram “mais equipamentos públicos, melhor trabalho, serviços públicos em condições, transportes satisfatórios e habitação digna”, sustentando que “a pobreza e a etnia não podem ser criminalizadas” e que a segurança nas comunidades só pode ser alcançada pela paz social e pela garantia de justiça.
Com um dispositivo policial de dezenas de agentes, a manifestação que percorreu a Avenida da Liberdade correu sem nenhum incidente e os participantes ouvidos pela Inforpress, todos são unânimes em dizer que a justiça tem que ser feita, mostrando-se também admirados com a quantidade de pessoas que responderam à chamada da Vida Justa, que mesmo com chuva, ninguém desistiu.
Familiares e amigos de Odair Moniz, associações de moradores do bairro do Zambujal, onde residida a vítima, e de outros bairros da Área Metropolitana de Lisboa e outros movimentos sociais e anti-racistas estiveram presentes na manifestação pacífica.
Desde o sucedido na segunda-feira, e durantes três noites, foram registados muitos protestos, e diferentes bairros da Área Metropolitana de Lisboa, com registo de quatro autocarros queimados, automóveis e caixotes de lixo.
Um grupo de cidadãos, entre eles a antiga ministra da Justiça portuguesa Francisca Van Dunem, já disse que na segunda-feira, 28, vai apresentar uma queixa-crime contra o presidente do Chega, André Ventura, e o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto.
André Ventura pediu que o agente que disparou contra Odair Moniz fosse condecorado e que “se a polícia tiver de entrar a matar, também tem de entrar a matar”, enquanto Pedro Pinto declarou que “se a polícia atirasse mais a matar, o país estava em ordem”, declarações que os subscritores da queixa-crime consideram que instigam à prática de crime, apologia da prática de crime e incitamento à desobediência colectiva.
Odair Moniz de 43 anos, faleceu no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, para onde foi socorrido depois de ter sido baleado por um agente da PSP, na Cova da Moura, na madrugada desta segunda-feira, 21.
O velório de Odair decorre hoje na capela mortuária da Igreja da Buraca e o funeral está marcado para este domingo, 27, às 14:30 locais, no cemitério de Amadora, depois do serviço religioso às 14:00.
DR/ZS
Inforpress/Fim
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