Cidade da Praia, 23 Out (Inforpress) – O sociólogo e investigador César Monteiro defendeu hoje que a nova geração de músicos cabo-verdianos mantém uma relação “diferenciada, mas real”, com a música tradicional, contrariando a percepção de que os jovens estão afastados desse legado cultural.
O especialista falava à imprensa à margem de uma mesa redonda intitulada “Música cabo-verdiana: percurso e desafios de sua evolução", promovida pela Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes (FCSHA) da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), na cidade da Praia.
“Os jovens desta geração, da faixa dos 18 a 50, não estão virados de costas à música tradicional (…). Mesmo aqueles que não estão na música tradicional, têm respeito pela música tradicional. Não a agridem, não a hostilizam”, pontuou com base num estudo que vem desenvolvendo.
“Aliás, a minha tese é tentar desconstruir, e aproveito para o afirmar aqui, essa ideia fácil de que os jovens não querem saber nada da música tradicional. Eu consigo, com dados de uma investigação de campo, demonstrar isso.
César Monteiro referiu que, embora os jovens estejam mais direccionados para a “música dita comercial”, esta música “também transporta traços da tradição” e mantém “alguma relação com a música tradicional”, ainda que de forma diferenciada.
Conforme revelou, há um ano estuda o tema e apresentou, na ocasião, uma tipologia sobre a forma como as novas gerações se relacionam com a tradição musical cabo-verdiana.
De acordo com César Monteiro, essa tipologia distingue três grupos de compositores com idades entre os 18 e os 50 anos: um grupo minoritário dedicado inteiramente à música tradicional; um segundo grupo que inova e moderniza a tradição; e um grupo maioritário ligado à música comercial, mas que “recorre a elementos tradicionais quando necessário”.
“Embora estejam mais virados para a música dita comercial, essa música comercial também transporta traços da tradição”, explicou, acrescentando que “a música é um corpo vivo e diverso, que reflecte o passado e a sociedade cabo-verdiana, ela própria heterogénea”.
O investigador observou ainda uma maior ligação às expressões tradicionais locais por parte dos jovens músicos da ilha de Santiago, o que, na sua perspectiva, se deve a um sentido de pertença mais forte.
Quanto aos desafios, César Monteiro defendeu a necessidade de reforçar a aprendizagem musical nas escolas e universidades, sobretudo no domínio da música tradicional.
“Os compositores são poucos e os mais velhos vão envelhecendo e morrendo. Se os jovens não tomarem conta da música tradicional em termos de composição, poderemos correr o risco de a tradição perder espaço”, advertiu.
TC/CP
Inforpress/Fim
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