Independência/50 Anos: História da ilha do Fogo e o olhar de padre Ottavio Fasano meio século depois

Inicio | Política
Independência/50 Anos: História da ilha do Fogo e o olhar de padre Ottavio Fasano meio século depois
15/05/25 - 09:11 am

São Filipe, 15 Mai (Inforpress) - A história da ilha do Fogo nas últimas cinco décadas é, no olhar do missionário italiano padre Ottavio Fasano, uma “verdadeira maravilha” com transformações sociais, espirituais e humanas.

Para quem chegou ao arquipélago em 1964 e viu de perto “a miséria, o abandono e a ausência de infraestrutura básica”, o que existe hoje é resultado de “uma transformação profunda, uma revolução silenciosa” guiada “pela dignidade, pela fé e pelo esforço colectivo” do povo cabo-verdiano, classificou o missionário.

“Lembro-me de muitas coisas. Chorei pela primeira vez em 1964, quando cheguei. Chorei muitas vezes. Pobreza, mas não era só pobreza. Era miséria, era abandono”, relembrou, emocionado, o padre, hoje com 89 anos.

Sublinhou que também havia “uma força silenciosa”, uma “identidade muito forte” nesse povo.

“A independência, para mim, foi o momento mais alto, foi um presente”, disse padre Ottavio Fasano, que sublinhou que a independência, em 1975, não foi apenas uma ruptura política, foi o "momento mais alto" de um povo.

"Participamos com o coração, rezando para que Cabo Verde encontrasse sua dignidade", afirmou o padre, que acompanhou a transição e acrescenta que Fogo e Cabo Verde, antes símbolos de desespero, tornou-se um laboratório de resistência.

De testemunha da história a protagonista de acções sociais, padre Ottavio Fasano acompanhou o nascimento de Cabo Verde como nação, passando pela organização das comunidades, a valorização da cultura e a grande migração cabo-verdiana, especialmente para a Europa (Itália) e aos Estados Unidos da América.

Um dos episódios que mais o marcou, como disse, foi a contribuição que deu na emigração de mais de 12 mil jovens mulheres cabo-verdianas para a Itália,

Acrescentou que elas foram acolhidas por famílias italianas e trabalharam com dedicação, construíram suas casas, formaram famílias.

“Isso foi um consolo para mim. Hoje, são milhares de cabo-verdianas casadas, com filhos, com uma vida construída com dignidade. É maravilhoso”, regozijou-se.

Cinco décadas depois da independência, padre Ottavio afirma que ao longo de sua trajetória Cabo Verde foi mais do que uma missão religiosa para ele.

“Foi aqui que a minha capacidade de amar encontrou portas abertas porque o povo cabo-verdiano é corajoso, aberto, acredita no seu futuro" reflete

Ele atribui parte dessa transformação à atuação dos missionários capuchinhos, que contribuíram para a formação de uma identidade nacional iluminada pela espiritualidade.

“A luz do evangelho foi fundamental. Não foi só uma luta política. Foi uma caminhada com fé”, finalizou.

JR/AA

Inforpress/Fim

Partilhar