Espargos, 13 Out (Inforpress) – O Siacsa fez hoje um balanço dos encontros que vem efectuando no Sal e na Boa Vista, destacando um contraste acentuado entre a "boa gestão" observada na Enapor com a precariedade laboral e baixos salários na Administração Pública local.
O presidente do Sindicato da Indústria, Agricultura, Comércio e Serviços Afins (Siacsa), Gilberto Lima, fez essas considerações no Sal, onde vai estar até quarta-feira, 15, para continuar a auscultação.
Desde 10 de Outubro, o sindicato reuniu-se com estivadores, trabalhadores da Ficase (Fundação Cabo-verdiana de Acção Social e Escolar) e o director do Porto da Palmeira.
Na Enapor, o balanço é positivo e Gilberto Lima afirmou que as relações laborais estão a "andar bem" e que praticamente não há grandes reivindicações.
A principal discussão centrou-se em questões pontuais, como a necessidade de acelerar o tratamento de um estivador doente junto ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e ajustes nos horários de descanso.
O sindicato comprometeu-se a colaborar com a Enapor e o INPS para resolver estas questões, sublinhando que a ausência de grandes problemas laborais reflecte uma gestão de "melhor qualidade".
Contudo, considerou, a situação é “alarmante” noutros sectores.
Relativamente aos trabalhadores da Ficase e da Administração Pública, o Siacsa disse ter detectado “problemas graves”.
Gilberto Lima manifestou preocupação com o assédio moral e ameaças, nomeadamente contra as cozinheiras, uma situação agravada pela dependência de vínculos precários que persistem nestas ilhas.
“Quanto à questão dos trabalhadores da Ficase, aí há situações bastante preocupantes, tem a ver com as cozinheiras que, por vezes são maltratadas no seu posto de trabalho, com ameaças, com assédio moral e contratos precários”, indicou.
Um dos pontos mais críticos apontado pelo sindicalista é a questão salarial, com os trabalhadores a receberem o salário mínimo nacional de 19 mil escudos, um valor que, segundo o sindicato e os próprios funcionários, não é suficiente para cobrir 15 dias de vida nestas ilhas.
“O Siacsa está a exigir que as autoridades revejam a situação para que o salário mínimo na Administração Pública destas duas ilhas seja superior a 19 mil escudos, por uma questão de justiça social”, continuou.
Na Delegação de Saúde, ajuntou o sindicalista, a situação é ainda mais tensa, com relatos de falta de pagamento de velas (horas extras) há três meses e a “frustração” dos trabalhadores em relação à implementação do Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações (PCFR).
Lima também apontou a anomalia de subordinados ganharem mais do que os próprios chefes e a falta de pagamento de subsídios de reintegração.
O Corpo de Bombeiros, continuou, também enfrenta dificuldades. Além da falta de regulamento e da disparidade de tratamento em relação aos efetcivos da ASA, os bombeiros trabalham em espaços físicos de risco iminente, com tectos a desabar, e as bombeiras são obrigadas a partilhar casas de banho e espaços com os homens, uma situação que o Siacsa classificou como inaceitável.
Durante a sua estadia, o presidente sindical adiantou que tentará reunir-se com a Câmara Municipal do Sal para “pressionar” pela resolução destas questões, incluindo a aplicação do PCFR (Plano de Carreiras, Funções e Remunerações), o pagamento de retroactivos e a melhoria das condições de trabalho para o pessoal de saneamento.
Além disso, estão agendados encontros com agentes prisionais e, novamente, com os bombeiros, para levar as preocupações directamente à ministra da Justiça.
Lima concluiu alertando que, caso não haja avanços, o sindicato poderá "fazer alguma pressão maior" para garantir os direitos dos trabalhadores.
NA/ZS
Inforpress/Fim
Partilhar