Cidade da Praia, 20 Mar (Inforpress) - A psicóloga obstétrica do Hospital Universitário Agostinho Neto (HUAN), Maria Dias, realçou hoje a importância da psicologia da maternidade para a saúde mental e emocional da mulher durante a gravidez e no pós-parto.
A especialista, que foi convidada da Universidade Jean Piaget (UniPiaget) para apresentar a experiência da psicologia da maternidade no HUAN, durante a jornada de psicologia, realizada hoje no quadro dos “dias abertos”, adiantou que dados da OMS indicam que uma em cada cinco mulheres terá um episódio de saúde mental durante a gravidez ou um ano após parto.
“Compreender as mudanças que ocorrem durante a gravidez, o parto e o pós-parto é essencial para uma transição suave para a maternidade”, sublinhou.
Para além da conhecida depressão pós-parto, Maria Dias afirmou que existem várias outras questões à volta da saúde mental materna, salientando que a gravidez, parto e pós-parto é um dos ciclos de desenvolvimento da vida da mulher onde ela está mais propensa a ter alguma complicação emocional significativa.
“Estresse, ansiedade, medo e ou mesmo ter complicações psicológicas, depressão, ansiedade e outras complicações, como por exemplo a depressão pós-parto. Então, é necessário que toda grávida fizesse aquilo que chamamos de pré-natal psicológico. Da mesma forma que se faz o pré-natal com obstetra, com o médico, seria necessário também trabalhar as questões emocionais que surgem à volta da gravidez”, explicou.
Conforme disse, uma depressão na gravidez não diagnosticada e tratada impacta a saúde mental materna, impacta o desenvolvimento do feto em si, a vinculação afectiva, podendo levar a um parto prematuro e, no caso do desenvolvimento normal da gravidez com a perda de sono e a demanda com a criança que provoca cansaço, os sintomas começam a aparecer.
“Quando a criança nascer, como a mãe está deprimida tem menos disponibilidade emocional para doar, para cuidar. É necessário que uma outra pessoa se responsabilize pelos cuidados dessa criança, que também ficará afectada. E as complicações não ficam apenas na primeira infância. Se não forem tratadas, logicamente, vão aparecer na adolescência ou mesmo na vida adulta”, explicou.
Neste sentido, realçou que a saúde mental materna tem um impacto em toda a família, porque a gravidez, o parto, o “ciclo gravídico” como se fala, tem um impacto no casamento, nas finanças, na identidade da própria mulher e, com consequências, também para a família.
Por isso, afirma que é de extrema importância olhar para a mulher durante o ciclo “gravídico”.
“A OMS, nas últimas recomendações que fez em 2023, destacou que é necessário que as mulheres tenham acompanhamento durante toda a gravidez, e um ano após o nascimento da criança, porque é o período onde ela pode adoecer mentalmente”, realçou alertando para “o mito de que devido ao amor materno a mulher está plena, está feliz”.
Em Cabo Verde existem psicólogos em todos os centros que fazem atendimento generalizado. Por isso, Maria Dias defende a necessidade de se investir em profissionais especializados para melhores cuidados aos pacientes.
Os “dias abertos” na Uni-Piaget, com duração de uma semana, são realizados todos os anos no mês de Março e este ano por ser o ano da saúde mental a universidade também se associou à iniciativa, conforme explicou, a directora da Unidade de Área de Saúde, Ana Moniz.
MJB/CP
Inforpress/fim
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