
Cidade da Praia, 13 Out (Inforpress) – Erise Semedo redescobriu no crochê, durante o tratamento contra o cancro da mama, uma forma de cura emocional que se transformou num negócio próprio e numa missão de valorizar a arte, o amor e a superação.
Inspirada pela campanha Outubro Rosa, que celebra a força e a superação e consciencializa as mulheres sobre o cancro de mama, a Inforpress conheceu a história de Erise Semedo, uma mulher que transformou a dor em arte e encontrou no crochê o fio que tece um novo começo.
Durante a entrevista, Semedo contou que o contacto com o crochê surgiu de forma natural, numa fase em que a quimioterapia a obrigava a passar longos períodos em casa.
A mãe, que a acompanhava, fazia rendas, esse gesto familiar despertou nela memórias da infância.
Pegou numa agulha, seguiu tutoriais no “YouTube” e começou a criar os primeiros tops, que ofereceu a amigas e familiares.
Foi assim que nasceu uma paixão que rapidamente se transformou em algo muito maior.
Com o tempo, fez o seu primeiro boneco de crochê e o denominou carinhosamente por “amigurumi” e percebeu que podia transformar isso num meio de expressão e sustento.
À medida que as pessoas se encantavam com as suas criações, começou a vender peças, primeiro em Portugal, onde fazia o tratamento e, mais tarde, em Cabo Verde.
Assim nasceu a sua marca, “Miniatura”, dedicada à confecção de bonecos e acessórios, sempre com atenção especial aos detalhes e às limitações físicas deixadas pelo tratamento.
A artesã explicou que o crochê passou de simples passatempo a um verdadeiro propósito de vida.
Contou que algumas encomendas a tocaram profundamente, como a de uma mãe que perdeu o filho recém-nascido e pediu-lhe para recriar o bebé em forma de boneco, ou de uma jovem que quis oferecer a uma criança a imagem do pai falecido.
Histórias como estas, segundo Semedo, mostraram-lhe que a arte é também uma forma de curar e eternizar memórias.
Hoje, encara a dor como um caminho de evolução e considera que o crochê foi uma bênção que a fez renascer, conhecer o amor-próprio e redescobrir o valor da vida.
Na sua página do Instagram, partilha reflexões sobre o verdadeiro valor da arte, defendendo que cada peça feita à mão carrega a alma e o tempo do artesão.
Além de manter o negócio activo, Erise Semedo revelou o desejo de ensinar croché, especialmente às crianças, para que aprendam o valor do trabalho manual e encontrem satisfação na criação.
Em Portugal, já realizou workshops e espera concretizar também este projecto em Cabo Verde.
No entanto, lamentou a dificuldade em encontrar materiais de qualidade no país, explicando que a maioria das linhas disponíveis é de plástico ou lã sintética, pouco resistentes e inadequadas para bonecos.
Por isso, conforme explicou, utiliza linhas importadas de Portugal, enquanto sonha em ver o mercado local mais preparado para apoiar o artesanato nacional.
Entre agulhas, linhas e sonhos, Erise Semedo continua a tecer histórias, transformando dor em beleza e cada ponto em um testemunho de fé, esperança e amor pela vida.
KF/SR//HF
Inforpress/Fim
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