Cidade da Praia, 15 Set (Inforpress) – Os moradores da cidade da Praia mostram-se indignados com os cortes de energia, mesmo após a Empresa de Produção de Electricidade (EPEC), ter anunciado a manutenção do Grupo Gerador Wärtsilä n.º 5 da Central do Palmarejo.
Os apagões têm afectado diversos bairros da capital e localidades vizinhas, provocando preocupações generalizadas e prejuízos diários para os moradores.
Durante uma investigação no terreno, a Inforpress ouviu residentes da cidade Praia e de outras zonas de Santiago para avaliar o impacto da situação.
Na Achada de Santo António, Liliana Martins classificou o cenário como “péssimo”, alertando que os constantes apagões comprometem alimentos armazenados nos frigoríficos e danificam electrodomésticos.
“Não tem como viver assim. Quem nos vai entregar novos electrodomésticos se os nossos se estragarem? Pagamos a factura todos os meses, às vezes acima do normal, mas ficamos sem luz quase todos os dias”, lamentou, destacando também o impacto para pequenos negócios como barbearias e salões de beleza.
Em Terra Branca, Ana Teixeira afirmou que a comunidade enfrenta “três semanas” de fornecimento irregular.
“Isso prejudica muito. Não consegues usar a internet, nem ver o noticiário. Os produtos no frigorífico estragam. A Electra nunca fala connosco, mas no final do mês a factura aparece sempre. O Governo precisa olhar para nós, porque "isto não está bonito", lamentou.
Na zona piscatória de Porto Mosquito, a peixeira Carmem Fidalgo explicou que a crise eléctrica agrava ainda mais a situação da comunidade.
“Compramos peixe fresco e colocamos nas arcas, mas quando a luz vai embora, ficamos sem condições de conservação e assumimos o prejuízo. Já passamos até três dias seguidos sem energia. É desesperador”, desabafou, acrescentando que alguns moradores recorrem a ligações clandestinas.
Em 20 de Agosto de 2024, duas pessoas morreram electrocutadas em Cabo Verde, uma na zona de Bela Vista e outra na Chã de Santo António, devido a ligações clandestinas. O furto de energia é crime previsto no Código Penal, mas os responsáveis, de acordo com a opinião pública, raramente são punidos.
Só no primeiro semestre de 2024, a EDEC informou que realizou mais de 8.000 inspecções na região Sul, identificando mais de 2.900 situações de ligações clandestinas e denunciou que mesmo em bairros com acesso legal à rede, o roubo de energia continua sendo um problema sério, gerando perdas financeiras e riscos à vida.
Para conter a situação, a EDEC intensificou campanhas de conscientização e fiscalização, lembrando que, embora existam regras técnicas para ligações eléctricas, muitas vezes elas não são cumpridas.
A empresa planeia ainda colaborar com o Ministério da Justiça para criar mecanismos que punam, efectivamente, os infractores e evitem novos acidentes.
O presidente da Câmara Municipal da Praia, Francisco Carvalho, apontou, por sua vez, a falta de investimentos estruturais como uma das principais razões da fragilidade do sistema.
“Em 2016 tínhamos duas máquinas que garantiam 200% da capacidade. Hoje, essas mesmas máquinas foram unidas para suprir a procura, mas sem suplemento. Quando há avaria, a luz vai embora. A população cresceu, o consumo aumentou, mas os investimentos não acompanharam essa evolução”, explicou, defendendo que é possível fazer melhor.
A situação torna-se ainda mais preocupante com o arranque do novo ano lectivo, que começa hoje, 15, com pais e professores alertando que a falta de electricidade pode afectar aulas, utilização de equipamentos electrónicos e estudo nocturno dos alunos.
Pequenos comerciantes, como padarias e geladarias, também reportam perdas e alguns centros de saúde recorrem a geradores de emergência para garantir serviços mínimos.
Em Julho deste ano, a EPEC anunciou a parada programada do Grupo Gerador Wärtsilä n.º 5 para manutenção mecânica, justificando a medida como parte de acções para reforçar a fiabilidade e segurança do sistema de produção.
No entanto, moradores afirmam que a situação “não só não melhorou, como piorou”.
KA/SR//HF
Inforpress/Fim
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