***Por: Margareth G. Lima, da Agência Inforpress***
Sal Rei, 15 Abr (Inforpress) – A paisagem árida e escaldante da “ilha fantástica”, floresceu a Boa Vista Ultramarathon (Bis), idealizada pelo italiano Piergiorgio Scaramelli, que impulsionou tanto o atletismo local, como projectou o nome de Cabo Verde no cenário mundial do ultramaratonismo.
A Boa Vista Ultramarathon, com mais de duas décadas de história, é a competição pioneira na distância de 150 km em Cabo Verde, marcada por superação, parcerias internacionais e o surgimento de talentosos atletas cabo-verdianos.
Piergiorgio Scaramelli, um experiente ultramaratonista de 72 anos, com passagens por renomadas provas em desertos ao redor do mundo, fixou residência na Boa Vista em 1998, onde sua paixão pela corrida de longa distância e o cenário da ilha o inspiraram a criar um evento que desafiasse os limites dos atletas.
"Eu já tinha 30 anos de Ultramarathon nos desertos (...) a ideia aqui nesta grande ilha deserta, depois de ter corrido pelos caminhos das cabras, as dunas, ribeiras e praias sem problema, e conhecido toda a ilha, foi de passar de atleta a organizador." relembrou.
Assim, em 2000, nascia a Boa Vista Ultramarathon, com sua prova rainha de 150 quilômetros em regime de autossuficiência alimentar, realizada com o sócio italiano Corrado Zambonelli. A primeira edição, que teve como vencedor Gianluca Barros Leitão, de 18 anos, deu início a uma jornada que transformaria a história desportiva da ilha.
Piergiorgio Scaramelli conta que a prova cresceu nos anos seguintes, e em 2004, com a desistência do sócio, ganhou um importante parceiro, o italiano Marco Zaffaroni e sua equipe Friesian Team. E juntos solidificaram o evento, que hoje oferece também provas de 75 e 42 km, atraindo corredores de diversas nacionalidades.
Para o mentor, um dos maiores legados da competição é o desenvolvimento do atletismo de longa distância no país, com atletas locais, como Adilson, Oceano e Nelson, que participaram e venceram as primeiras edições, inspirando uma nova geração de corredores, sendo que das 21 edições, 14 foram vencidas por nacionais.
"Digamos que a Bis permitiu o conhecimento de Cabo Verde e Boa Vista, essa ilha fantástica como disse Germano Almeida, no mundo", afirmou.
Destacou o impacto do evento na promoção do turismo e do desporto no país, assim como na formação da equipe nacional de ultramaratona de Cabo Verde, oficialmente criada em 2014, da qual foi “manager”.
Já participaram de sete campeonatos mundiais, com atletas formados nas “trilhas desafiadoras” da Boa Vista, completou.
Piergiorgio Scaramelli aponta como “os maiores desafios” da organização a dificuldade de conseguir patrocinadores e o fraco apoio do Governo por exemplo, tendo em conta os altos custos na ilha.
A Bis também tem histórias marcantes e anedotas, que Scaramelli partilhou, como a de um atleta local que recebeu umas sapatilhas novas da organização, mas preferiu correr com umas sandálias de pneus e preservar os sapatos novos.
Cães que acompanharam os donos do início ao fim do percurso, ou o atleta Oceano, que bebeu leite directamente de uma cabra durante a prova por falta de mantimentos, o que para o mentor do evento mostra o espírito de adaptação, resiliência e a força dos atletas cabo-verdianos especialmente em provas de longa duração.
Enquanto se organiza para a 22.ª edição do Boa Vista Ultratrail, em Dezembro, Piergiorgio Scaramelli continua “correndo”, inspirando e impulsando outros atletas, como Jailson Manuel Duarte Oliveira, que vai representar Cabo Verde na prova de 50 km na Itália em Abril, o acompanhará na prova de 100 km do Passatore em Maio.
MGL/ZS
Inforpress/Fim.
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