
Cidade da Praia, 02 Nov (Inforpress) – A realizadora e cinematógrafa subaquática Samira Vera-Cruz afirmou hoje que o cinema cabo-verdiano vive um momento de “ousadia e afirmação”, defendendo que o diálogo entre Governo e profissionais é essencial para garantir uma evolução sustentável do sector.
Em declarações à Inforpress, à margem do ciclo de conversas do evento “Nôs Filme, Nôs Voz – Conversa Aberta com Cineastas de Cabo Verde”, a cineasta considerou positiva a abertura demonstrada pelo Executivo, lembrando que quem produz cinema “sabe na pele” os desafios de tornar um projecto viável.
“Não podemos pensar políticas para o cinema sem escutar quem faz cinema. Aquilo que trazemos é a experiência real dos festivais, da produção, da forma como buscamos fundos lá fora e do que é preciso para competir e representar Cabo Verde com dignidade”, afirmou.
Entre as prioridades, Samira sublinhou a necessidade de operacionalizar uma film commission, instrumento há muito solicitado pelos cineastas e já anunciado pelo ministro da Cultura.
“A lei prevê várias coisas, mas precisa de ser ajustada com quem trabalha no terreno. Sabemos as dificuldades que enfrentámos até aqui e sabemos para onde queremos ir. Esse know-how pode e deve ser partilhado”, defendeu.
A realizadora descreveu os últimos dez anos como um período “fértil” para o cinema nacional, marcado por uma geração que, segundo disse, tem avançado “com atrevimento e teimosia”, apesar das dificuldades permanentes de financiamento e de acesso a equipamentos.
“Já pensei em desistir várias vezes. Não é fácil conseguir recursos. Mas continuamos, estudamos técnica, insistimos. E aquilo que estamos a fazer é um cinema muito nosso, autoral, centrado na personagem e nas identidades cabo-verdianas mistas, complexas, da diáspora e das ilhas”, realçou.
Para Samira Vera-Cruz, existe uma poética comum que atravessa as obras deste movimento.
“Fazemos cinema quase como fazemos música, mesmo quando falamos de problemas, falamos com poesia, com estética. Há uma sensibilidade cabo-verdiana evidente no nosso olhar”, disse.
A cineasta evidenciou ainda que, apesar de trabalharem em registos distintos, os realizadores da actual geração partilham pontos de encontro que fortalecem o sector.
“Somos diferentes, e ainda bem. A diversidade é a nossa riqueza. Mas há linhas que nos aproximam e que tornam este momento muito especial”, frisou.
Segundo a mesma fonte, a participação no encontro, partilhada com outros colegas num mesmo espaço, constituiu para a mesma uma oportunidade rara de troca, aprendizagem e aproximação entre profissionais que, habitualmente, desenvolvem o seu trabalho de forma dispersa.
“Estamos todos espalhados pelo mundo, ocupados a fazer filmes e projectos. Estar aqui, aprender, ensinar e conversar é especial. Estou optimista quanto ao que ainda vamos construir no cinema cabo-verdiano. Fiquem atentos, porque, sem dúvida, ele é uma bandeira para apresentar Cabo Verde ao mundo”, garantiu.
O evento “Nôs Filme, Nôs Voz – Conversa Aberta com Cineastas de Cabo Verde” decorreu durante dois dias na Cidade da Praia, reunindo realizadores, produtores, estudantes e agentes do sector audiovisual para um ciclo de debates dedicado ao presente e futuro do cinema cabo-verdiano.
LFS/JMV
Inforpress/Fim
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