
Mindelo, 29 Nov (Inforpress) – A 10.ª edição da Feira de Artesanato e Design de Cabo Verde (Urdi), que decorre até domingo no Mindelo, conta com um stand com peças produzidas por reclusos da cadeia de São Vicente.
Em declarações à Inforpress, o director do estabelecimento prisional explicou que o objectivo é expor produtos para que as pessoas tenham conhecimento do que é feito na cadeia a nível da arte.
“Como é impossível trazer todos os reclusos que produzem peças, fazemos uma selecção de alguns para virem expor as obras de todos os colegas. Há peças de todo o tipo, desde carteiras, bolsas, brinquedos de madeira, produtos reciclados… temos de tudo um pouco”, afirmou.
Segundo a mesma fonte, expor esses produtos é uma forma de ajudar os reclusos a reinserirem-se na sociedade. Isto porque, clarificou, mesmo que o recluso não tenha formação para trabalhar em artesanato, sai da cadeia com um saber-fazer e com uma forma de garantir o sustento para si e para a família.
No entanto, explicou que neste momento decorre uma formação de arte contemporânea no estabelecimento prisional, que ensina aos reclusos um pouco de tudo, desde escultura, pintura e cerâmica, entre outros.
Quem também expõe na feira é José Martins, ex-recluso de 54 anos, que este ano concorre ao prémio Djoy Soares. Segundo o artesão, a arte sempre foi o seu modo de vida, antes, durante e depois da prisão, e agora que está em liberdade quer fazer dela o sustento para a família.
“Sou formado em artesanato e fiz da arte o meu modo de vida. Infelizmente, quando estava na cadeia compravam os produtos sempre caros”, adiantou a mesma fonte, que apresenta na feira produtos feitos à base de plástico para sensibilizar a sociedade para a reutilização deste material.
“Fiz tartarugas com plástico e tampas de garrafas PET [Polietileno Tereftalato]. Também tenho peças feitas de rolhas nas quais retrato a vivência dos cabo-verdianos, e uma delas, que são tartarugas feitas de plástico a envolver o mundo, está a concorrer ao prémio Djoy Soares”, clarificou.
Além de marcar pela inclusão e diversidade, a feira Urdi destaca-se também pela superação dos artesãos. Prova disso são o ceramista Renato Reis e a artesã Fatú Delgado, que perderam grande parte das suas peças, fornos e máquinas no Quintal das Artes, que foi fustigado pelas chuvas da tempestade Erin de 11 de Agosto.
Disseram que inicialmente cogitaram não participar na feira, mas, por serem resilientes e nutrirem um amor profundo pela arte, decidiram inscrever-se.
“Estava a trazer muitas novidades, mas com a tempestade Erin perdi um forno e algumas peças, mas vim com fé e com grande expectativa de ter algum retorno”, disse Renato Reis.
A artesã Fatú Delgado disse que até agora não abriu o seu ateliê por causa dos estragos provocados pelas chuvas. Teve de fazer as peças à pressa para poder apresentar-se na feira.
“Trabalhei de madrugada, porque quando se trabalha com amor consegue-se alcançar os objectivos, e somos um povo resiliente. Desta vez trouxe um trabalho mais forte, com a junção de dois materiais: croché e lacrinhas de latas de cerveja, e gostei do resultado”, revelou.
Apesar das perdas causadas pela tempestade, a artesã disse que no futuro pretende criar um projecto para partilhar o seu conhecimento com outras pessoas, para que as técnicas sejam perpetuadas.
A feira decorre até Domingo sob o lema “Urdi – 10 anos de celebração do artesanato e design de Cabo Verde”, com a participação de mais de 150 expositores.
CD/CP
Inforpress/Fim
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