
***Por: Marli Coutinho Mendes, da Agência Inforpress***
Tarrafal, 19 Nov (Inforpress) – Tarrafal acordou com o cheiro da maresia e ao som das ondas, mas também com as marcas de uma tempestade que deixou a comunidade abalada.
As chuvas de 13 de Novembro, que começaram de forma leve e se transformaram em enxurradas violentas no final da tarde, arrastaram viaturas, animais, embarcações e destruíram casas, quintais e plantações, deixando um desaparecido e uma comunidade em choque.
Hoje, entre a esperança e a dor, os habitantes tentam reconstruir suas vidas.
Wilson Pires, pescador da praia do Tarrafal, recorda a força da água que levou consigo até o seu quiosque: “o mar ainda está agitado, houve perdas de botes, mas amanhecemos firmes e fomos à faina. A água levou tudo, mas não leva a esperança”.
Apesar da destruição, vê sinais de positividade na pesca: “houve melhorias e aumento do peixe, isso dá ânimo”.
Para a peixeira Domingas Varela, de Chão Bom, o sentimento é de tristeza profunda: “é aqui nesta praia que ganhamos a vida. Esperamos que os governos façam a sua parte para restaurar a normalidade”.
Mesmo com o coração partido, ela, como muitos outros, voltou ao trabalho, valorizando a vida e a saúde dos familiares acima de tudo.
No sector agrícola, Armindo Soares, com a sua propriedade no Fundo Fonton, emocionou-se ao recordar as perdas: “vi todos os meus carneiros ir ribeira abaixo, e tudo o que tinha na agricultura”.
Apesar da dor, começou imediatamente a tentar recuperar o seu campo, consciente das dificuldades para recompor sistemas de irrigação e infraestruturas perdidas.
“Agradeço por termos sobrevivido, mas ver o trabalho de uma vida ir embora é imenso,” afirmou entre lágrimas.
Em várias localidades do Tarrafal, é visível o esforço da câmara municipal na limpeza das vias e na remoção das enxurradas, ajudando especialmente os mais necessitados.
Ineida Rodrigues e outras mulheres de Monte Bode lembram que a coragem e a fé as mantiveram durante a noite da tempestade, e que, mesmo assim, não hesitaram em ajudar vizinhos mais afectados.
“Agora pedimos união da comunidade, do Governo e da câmara para um apoio real aos que realmente necessitam e que não seja só financeiro, mas também emocional e presente,” disse Ineida.
Entre ribeiras, cutelos e comunidades afectadas, há tantas histórias de perdas quanto de esperança.
Cada Wilson, Domingas ou Armindo enfrenta as consequências, mas a determinação de reconstruir e continuar vivendo permanece.
No Tarrafal, como em Santa Cruz, São Miguel e Santa Catarina, a vida lentamente retoma, marcada pelas lembranças da tempestade, mas também pela força da solidariedade e da resiliência humana.
MC/JMV
Inforpress/Fim
Partilhar