Lisboa, 25 Out (Inforpress) – O movimento Vida Justa convocou para sábado uma manifestação em Lisboa, para reclamar justiça pela morte de Odair Moniz, baleado pela polícia na segunda-feira, enquanto o partido Chega marcou para o mesmo dia uma manifestação "em defesa da polícia".
Odair Moniz de 43 anos, cozinheiro e pai de três filhos, que residia no bairro de Zambujal, concelho da Amadora, faleceu no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, para onde foi socorrido depois de ter sido baleado pela Polícia de Segurança Pública (PSP), na Cova da Moura, no mesmo município, na madrugada desta segunda-feira, 21.
O movimento Vida Justa que desde o início contestou a versão da polícia, exigindo uma comissão independente para “investigar as mortes em circunstâncias estranhas que ocorrem na periferia” de Lisboa, convocou essa manifestação para sábado, para exigir justiça ao Odair Moniz, em colaboração com outros movimentos sociais e antirracistas e familiares da vítima.
A manifestação “Sem justiça não há paz”, está marcada para às 15:00, a partir do Marquês de Pombal, até à Assembleia da República.
Na sequência, o partido da extrema direita Chega, que já disse que o polícia que atirou contra o Odair deveria ser condecorado, convocou uma manifestação para o mesmo dia e no mesmo horário, “em defesa da polícia”, com partida da Praça do Município até à Assembleia da República.
A SOS Racismo também condenou a morte na Cova da Moura e criticou a PSP, afirmando que “Odair Moniz junta-se à longa lista de pessoas negras mortas às mãos da polícia de segurança pública”.
A Inspeção-Geral da Administração Interna abriu um inquérito urgente e também a PSP anunciou um inquérito interno, enquanto o agente que baleou o homem foi constituído arguido e o Procurador Geral da República, Amadeu Guerra, condenou os tumultos, temendo que alastrem, prometendo celeridade na conclusão do inquérito.
Desde o sucedido na segunda-feira, tem-se registados muitos protestos, na primeira noite, no bairro do Zambujal e Cova da Moura, e depois em outros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, com registo, até ao momento, de quatro autocarros queimados, automóveis e caixotes de lixo.
O motorista de um autocarro ficou gravemente ferido com queimaduras na cabeça, rosto e braço, encontrando-se internado na unidade de queimaduras do Hospital de Santa Maria, sendo que conforme informações policiais, mais de uma dezena de pessoas já foram detidas.
A Embaixada de Cabo Verde, em Portugal, em comunicado, sustentou que “nos momentos de tragédia, sem pôr em causa o elementar direito ao protesto e até à indignação, importa também zelar para que tudo aconteça num ambiente de paz e de serenidade”, repudiando o desacato e a violência, contra pessoas ou contra o património.
Para a missão diplomática cabo-verdiana, essas situações, para além de outras consequências, tais comportamentos só servem para “alimentar e fazer e crescer ideologias que apresentam os imigrantes como marginais e criminosos, inimigos dos naturais dos países do acolhimento e causa de quase todos os males”.
“Apelamos mais uma vez à calma e à serenidade, sem prejuízo do direito ao protesto ordeiro e pacífico, em consonância com as regras vigentes, consolidando a imagem de comunidades imigradas ciosas dos seus direitos, mas honestas, trabalhadoras e respeitadoras das leis”.
Esta quinta-feira, o Governo reuniu-se com os autarcas dos 18 municípios que compõem a Área Metropolitana de Lisboa (Alcochete, Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sintra e Vila Franca de Xira), tendo no final prometido mais meios de dissuasão e prevenção e segurança nos autocarros, com os autarcas pedem mais condições às forças de segurança.
Esta noite, em que a PSP reforçou o dispositivo policial em Lisboa e na área metropolitanao, o ambiente foi mais calmo, mas com registos de incidentes em alguns bairros, como contentores incendiados e um autocarro apedrejado no Bairro da Boavista, na freguesia de Benfica.
DR/CP
Inforpress/Fim
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