Lisboa, 24 Out (Inforpress) – Vários municípios da Grande Lisboa registaram mais uma noite de desacatos na sequência da morte do cabo-verdiano depois de ser baleado pela polícia, com registo de mais dois contentores incendiados, além de automóveis e caixotes de lixo.
Nas primeiras noites a onda de contestação teve lugar em Cova da Moura, onde a vítima foi baleada, em Zambujal, onde morava, em Portela de Carnaxide, Oeiras, sendo que os dois primeiros bairros são do município da Amadora, onde residem milhares de cabo-verdianos e descendentes.
Nesta noite de quarta feira, conforme as autoridades, registaram-se focos de incêndio em caixotes do lixo em Amadora, Sintra, Oeiras, Odivelas, Barreiro, Lisboa e Almada, todos municípios da Área Metropolitana de Lisboa, na sequência dos desacatos que se seguiram à morte do cabo-verdiano Odair Moniz, baleado pela polícia, na Cova da Moura, na madrugada de segunda-feira.
Do balanço feita, esta noite foi incendiado mais dois autocarros, um em Arrentela (Seixal) e outro em Santo António dos Cavaleiros, perfazendo quatro autocarros incendiados nessas três noites, para além de duas pessoas detidas na zona de Pintinha, elevando para cinco por dano qualificado, ofensa à integridade física.
A Inforpress conseguiu saber qua ainda não há detalhes sobre o funeral da vítima, quando também os polícias envolvidos já reconheceram que não foram ameaçados por arma em punho, contradizendo a versão oficial da Polícia de Segurança Pública (PSP) nas primeiras horas depois do sucedido.
Isso, numa altura em que o Ministério da Administração Interna (MAI) já disse que os distúrbios “são inadmissíveis” e o primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, já admitiu “endurecer a contenção da violência”.
Hoje, o Governo português vai reunir-se com os autarcas da Área Metropolitana de Lisboa para analisar os desacatos registados nas últimas noites em alguns bairros, onde estarão presentes o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, e a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco.
Na reunião também vão estar os autarcas dos 18 municípios que compõem a Área Metropolitana de Lisboa (Alcochete, Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sintra e Vila Franca de Xira).
Um inquérito criminal e disciplinar foi aberto, ordenado pela ministra da Administração Interna, e a Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) está a investigar o ocorrido, sendo que o polícia que atirou contra o Odair, não foi suspenso nem transferido, mas já foi constituído arguido.
Várias autoridades portuguesas já manifestaram e lamentaram o sucedido, pedindo que se faça justiça, conforme a lei, incluindo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao contrário do partido Chega, de André Ventura, que pediu que o polícia que atingiu o cabo-verdiano fosse condecorado.
A SOS Racismo condenou a morte na Cova da Moura, bairro também da Amadora, e criticou a PSP, afirmando que “Odair Moniz junta-se à longa lista de pessoas negras mortas às mãos da polícia de segurança pública”.
O Movimento Vida Justa também já contestou a versão da polícia exigindo exige uma comissão independente para “investigar as mortes em circunstâncias estranhas que ocorrem na periferia” de Lisboa.
A Embaixada de Cabo Verde disse que aguarda com serenidade os resultados do inquérito, e que confia e espera que as autoridades portuguesas farão tudo o que estiver ao seu alcance para apuramento rigoroso e em tempo útil de todos os factos relevantes e correspondentes responsabilidades que venham a ter lugar.
O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, também lamentou a morte de Odair Moniz, e manifestou solidariedade à família enlutada, amigos e a todos que conviveram com o jovem, transmitindo “as mais sentidas condolências”.
Em nota de imprensa, José Maria Neves destacou a tragédia da perda e reconheceu o sentimento de revolta e indignação que permeia a comunidade cabo-verdiana, apelando, no entanto, à calma e serenidade.
Odair Moniz de 43 anos, cozinheiro e pai de três filhos, faleceu no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, para onde foi socorrido depois de ter sido baleado pela PSP.
DR/CP
Inforpress/Fim
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