Cidade da Praia, 09 Jun (Inforpress) - O presidente da Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC), Geremias Furtado, manifestou à Inforpress a sua preocupação sobre o uso excessivo da Inteligência Artificial (IA) entre jornalistas jovens e até entre alguns experientes.
"O jornalismo digital é como andar numa estrada asfaltada não há volta a dar. Mas para isso, é preciso criar condições. Não podemos pedir que os jornalistas produzam conteúdo digital com equipamentos analógicos", clarificou.
Segundo Furtado, muitas redacções ainda operam com uma mentalidade antiga, alegando que "lá fora já se produz conteúdo exclusivamente digital, quando aqui ainda estamos a adaptar o conteúdo do papel ou da televisão para a internet. Estamos atrasados".
O presidente da AJOC também faz soar o alarme sobre o uso excessivo da IA entre jornalistas jovens e até entre alguns experientes.
"Vejo muitos jornalistas a usar e abusar da IA, especialmente na escrita. Isso é preocupante. Se um jovem começa assim, nunca vai aprender o que é escrever jornalismo de verdade. Está a tornar-se refém da ferramenta", avisou.
Para ele, as chefias e a própria sociedade têm responsabilidade neste cenário.
“Não somos contra a inteligência artificial nem contra o digital. Somos contra o mau uso. Defendemos um jornalismo sério, rigoroso, com alma e com verdade. Para isso, é preciso investir, formar e vigiar", esclareceu.
Furtado apela ainda a uma regulação editorial clara, que delimite a fronteira entre o uso responsável da tecnologia e a distorção dos princípios da profissão.
"A IA pode ser uma oportunidade se usada de forma ética. Mas se for usada para enganar, para copiar e colar textos prontos, então é uma ameaça. Estamos a assinar textos que não escrevemos. Isso descredibiliza a profissão", observou.
É que, o jornalismo cabo-verdiano, assim, encontra-se diante de um ponto de decisão.
“Entre a fita cassete e o algoritmo, entre a máquina de escrever e a inteligência artificial, permanece uma missão que o tempo não apaga, isto é, informar com rigor, ética e verdade. Porque no final, mais importante do que a ferramenta ou a plataforma, é a credibilidade de quem conta a história”, finalizou.
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Inforpress/Fim
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