Mindelo, 21 Fev (Inforpress) – O chinês Paulo Pan, que vive em Cabo Verde há mais de 30 anos, considera o crioulo como sua segunda língua, que possibilitou a sua “rápida integração” e fundamental para se sentir em casa no arquipélago.
Paulo Pan, que falou à Inforpress a propósito do Dia Internacional da Língua Materna, conheceu Cabo Verde pela primeira vez em 1992, na tentativa de busca de vida melhor como comerciante e teve como primeira paragem a cidade da Praia, onde esteve por três anos.
Neste processo de adaptação, ainda mais em termos linguísticos, de radicais completamente diferentes, afirma ter-se socorrido primeiramente a um dicionário de tradução inglês/português, que lhe permitiu ter os primeiros contactos com os cabo-verdianos.
Entretanto, segundo a mesma fonte, a maior parte do vocabulário crioulo foi adquirido no dia-a-dia, na convivência com funcionários, novos amigos cabo-verdianos, feitos principalmente em São Vicente, onde reside há mais de 15 anos.
“Foi mais fácil aprender o crioulo de São Vicente, porque é mais ligado ao português e as palavras têm poucas diferenças”, considerou Paulo Pan, que hoje ocupa a função de presidente da Associação dos Empresários Chineses em Cabo Verde.
Também disse ter sido nesta ilha onde se sentiu um pouco mais cabo-verdiano e a considerar o crioulo como sua segunda língua e que, inclusive, até o tem permitido comunicar com outras pessoas fora do País.
Paulo Pan dá o exemplo de algumas vezes que viajou para Portugal e conseguiu falar o dialecto com funcionários do aeroporto de Lisboa, naturais de São Vicente, e até mesmo com portugueses.
“É muito interessante quando acontece isso”, descreveu, adiantando que também na China o crioulo serviu-lhe de “ponte de amizade” até num restaurante que geriu durante alguns anos, depois ter feito uma pausa em Cabo Verde e voltou à sua terra natal.
Foi ali que disse ter conhecido alguns médicos cabo-verdianos que estiveram a estudar medicina tradicional chinesa e os surpreendeu, em abordagem feita em crioulo, falado por um chinês.
Contudo, Paulo Pan mostra-se céptico quanto à oficialização da língua materna cabo-verdiana, já que, como disse, esta só tem peso dentro de Cabo Verde
“Ainda assim, cada ilha tem a sua língua e com muitas diferenças, por exemplo, entre norte e sul. Por isso, acho muito difícil [a oficialização]”, assegurou o empresário, relembrando ainda que não há unanimidade entre os cabo-verdianos sobre qual dialecto a ser oficializado.
Por outro lado, acrescentou, há que ter em conta a “pouca expressão” do crioulo a nível internacional quando comparado com a língua oficial portuguesa que é falada na Europa, África, Ásia e América Latina.
Polémicas a parte, Paulo Pan argumentou a importância do crioulo na sua vida, a ponto de sentir o arquipélago como sua casa.
“Tenho sempre vontade de voltar para Cabo Verde. Vou à China visitar a família, mas, só consigo passar dois-três meses no máximo e logo sinto saudades de voltar”, asseverou, apontando a língua como um dos factores fundamentais para essa “paixão adquirida”.
Assegura ter “muito carinho” pelas gentes e pela língua cabo-verdiana, que, ajuntou, convive perfeitamente com a sua língua materna, o chinês, que tenta também preservar através da ligação com familiares e hoje em dia com a convivência com diversos jovens cabo-verdianos, que fizeram os estudos na China.
O Dia Internacional da Língua Materna é celebrado anualmente em 21 de Fevereiro em todo o planeta, este ano com o lema “Educação multilingue- um pilar de aprendizagem intergeracional”.
Criado pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, em 17 de Novembro de 1999, o Dia Internacional da Língua Materna tem o objectivo de promover a diversidade linguística e cultura entre as diferentes nações.
Além disso, esta data também convida a todos os países membros da UNESCO e suas matrizes a refletirem sobre a preservação das particularidades linguísticas e culturais de cada sociedade.
LN/JMV
Inforpress/Fim
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