Santa Cruz: Chuvas de Novembro fazem “renascer” lagoas e ambientalistas exigem maior protecção

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Santa Cruz: Chuvas de Novembro fazem “renascer” lagoas e ambientalistas exigem maior protecção
12/12/25 - 07:00 pm

Pedra Badejo, 12 Dez (Inforpress) – As chuvas intensas de Novembro devolveram cor, vida e movimento às lagoas de Pedra Badejo, no município de Santa Cruz, num fenómeno natural que emocionou moradores e surpreendeu até os ambientalistas mais experientes, que exigem maior protecção.

Após anos de seca, margens cheias de entulho e água cada vez mais salgada, as lagoas — Lagoa e Lagoinha, zonas húmidas do município de Santa Cruz e únicas da ilha de Santiago — voltaram a encher-se como há muito não se via. Para muitos, foi como assistir a um “renascer” do lugar.

À Inforpress, a presidente da Associação Lantuna, Ana Veiga, não escondeu a satisfação.

“A população não via as lagoas com tanta água há anos. Para muitos jovens, é a primeira vez que testemunham este fenómeno. Para mim também é a primeira vez que as vejo assim”, contou, olhando para a superfície ampla de água doce que, durante anos, parecia destinada a desaparecer.

Segundo a ambientalista, o volume de água que entrou foi suficiente para arrastar os entulhos acumulados ao longo das margens — restos de obras e despejos que, com o tempo, foram a assorear o ecossistema.

“A própria natureza encarregou-se da manutenção que tantos anos faltou”, disse.

As lagoas de Pedra Badejo, segundo a mesma fonte, têm “grande importância” ecológica, pois, são habitat de aves migratórias e endémicas, local de alimentação, descanso e reprodução, e integram desde 2005 um Sítio Ramsar, englobando a Praia de Areia Grande e, mais tarde, a albufeira da barragem de Poilão.

Apesar disso, continuam fora da Rede Nacional de Áreas Protegidas, um paradoxo que, segundo Ana Veiga, precisa ser resolvido com urgência.

A ambientalista advertiu que as maiores pressões sobre as lagoas são de origem humana, muitas vezes provenientes de instituições públicas e privadas.

“É necessária maior protecção, mais sensibilização e divulgação sobre o que são as zonas húmidas. Muitas pessoas nunca ouviram falar delas”, sublinhou, reforçando que Cabo Verde só tem a ganhar com a conservação destes ecossistemas pela biodiversidade e pelo seu forte potencial ecoturístico.

Na mesma linha, o presidente da Associação Ambiental Caretta Caretta, João Mendes, que actua no município, recorda que as lagoas estavam “completamente degradadas” antes dessas chuvas.

“É a natureza que faz a manutenção. O papel do homem é evitar impactos”, afirmou, ressaltando que a associação tem realizado limpezas, campanhas com escolas e acções de sensibilização, tentando travar o avanço de entulhos e práticas que degradam o local.

E, afirmou que mesmo sob pressão, as lagoas mantêm um forte valor social, pois, recebem estudantes em visitas de estudo, turistas que procuram tranquilidade, observadores de aves, investigadores, e pessoas que ali vão descalças ou banham-se por acreditarem nas propriedades terapêuticas da água.

Entre as espécies os ambientalistas mencionaram a garça-vermelha, a ‘tchota’ e o borrelho-de-coleira-interrompida, entre outras, sendo algumas raras ou migratórias e outras endémicas.

Os ambientalistas reforçam o apelo a uma acção mais firme das instituições, defendendo que “é preciso maior responsabilização para impedir que continuem a deixar entulhos nas margens e a praticar outras actividades que degradam o local. Só assim garantimos a protecção deste património natural”, defenderam.

Cabo Verde conta com zonas húmidas naturais em quatro ilhas, nomeadamente, Sal, Boa Vista, Maio e Santiago, e dispõe actualmente de quatro Sítios Ramsar reconhecidos internacionalmente: duas áreas na ilha da Boa Vista (Curral Velho e Lagoa de Rabil), uma na ilha do Maio (Salinas do Porto Inglês) e as lagoas de Pedra Badejo, em Santiago.

Estas últimas são as únicas fora da Rede Nacional de Áreas Protegidas, apesar da sua importância ecológica, social e económica.

Num arquipélago marcadamente árido, onde corpos de água permanentes são raros, as zonas húmidas desempenham um papel crucial na conservação da biodiversidade, na regulação ambiental e no desenvolvimento do turismo de natureza.

MC/ZS

Inforpress/Fim

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