Ribeira Grande, 08 Abr (Inforpress) - Moradores da Penha de França, Ribeira Grande, Santo Antão, denunciaram hoje o "descaso" das autoridades em relação ao saneamento e preservação ambiental, alertando para os graves problemas de saúde e bem-estar que afectam a comunidade devido à “negligência”.
A fossa comunitária que transborda e envia os dejectos para o mar, o cheiro nauseabundo provocado pela fossa, a queima de lixo tóxico na Praia Pequena, abaixo da comunidade da Penha de França, e o lançamento de desperdícios de material de construção são algumas das principais reclamações, que, segundo os moradores, têm sido “sistematicamente ignoradas” pelas autoridades.
António Lima, morador de Penha de França, relatou que há vários anos que convive com o “descaso” das autoridades relativamente ao ambiente e saneamento.
“Penha de França tem uma fossa comunitária que frequentemente transborda e os dejetos acabam por ser despejados no mar. O cheiro nauseabundo é constante e impregna o ambiente. Não há um dia em que não sintamos esse odor horrível vindo da fossa”, afirmou.
António Lima criticou a “falta de acção” por parte das autoridades competentes, pois, segundo a mesma fonte, as reclamações feitas ao longo dos anos nunca resultaram em melhorias concretas para a comunidade.
Conforme o morador, a situação agravou-se e tornou ainda mais insustentável com a recente prática de queimar lixo na Praia Pequena, uma zona balnear situada abaixo de Penha de França.
"Agora começaram a queimar lixo tóxico como pneus entre outros quase todos os dias na Praia Pequena. O fumo entra nas nossas casas, intoxicando-nos e provocando sérios problemas de saúde", explicou.
A fumaça, conforme a mesma fonte além de ser uma constante ameaça, ainda também lançam materiais de construção na praia, criando um cenário cada vez mais insustentável para quem vive em Penha de França.
Jéssica Semedo, que também reside em Penha de França, relatou uma “situação alarmante” ocorrida recentemente.
“Há cinco anos vivo em Penha de França, e no ultimo sábado acordei assustada com o cheiro de fumaça dentro da minha casa. Era vapores tóxicos, resultantes do lixo que estava a ser queimado na Praia Pequena. Havia até pneus a queimar”, disse.
Jessica Semedo explicou que, depois do incidente, fez um abaixo-assinado e já recolheu mais de 70 assinaturas de moradores da área.
“Falei com os meus vizinhos e outras pessoas da comunidade. Temos muitos idosos e crianças aqui, e é algo que não pode continuar. Não sei se Cabo Verde tem uma lei contra a queima de lixo no mar, mas, se não tem, deveria ter. O que está a acontecer é algo que está a prejudicar a saúde das pessoas, e isso não pode ser ignorado”, afirmou.
Segundo a mesma fonte a comunidade decidiu agir em conjunto e está determinada a dar um basta à situação.
“Nós já não podemos mais esperar. Se continuarmos assim, todos vamos adoecer. E quem vai pagar as contas dos hospitais? As autoridades têm que tomar providências agora”, alertou.
Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Armindo da Luz, afirmou que, nos últimos dias, ocorreu um “incidente” em que uma pessoa queimou lixo na Praia Pequena.
“Fomos até ao local procurar o responsável, pois a câmara não autoriza ninguém a queimar lixo na praia. Somos contra essa prática. Chamei os bombeiros para apagar o fogo, mas não sabemos quem cometeu o acto”, explicou.
Armindo da Luz garantiu que levará a questão à Assembleia Municipal, uma vez que, segundo ele, ainda há uma mentalidade errada de queimar lixo.
“Quero levar este tema à Assembleia Municipal para que as pessoas percebam que a queima de lixo é proibida. Da minha parte, farei tudo o que for possível para que isso não aconteça em nenhum local”, afirmou.
Relativamente à fossa comunitária, o edil revelou que a Câmara já submeteu um projecto ao Fundo do Ambiente na tentativa de resolver o problema.
“Mas, independentemente disso, estou à procura de recursos em qualquer fonte disponível para solucionar esta questão com a maior urgência possível. A Câmara não dispõe de recursos próprios para avançar de imediato”, referiu.
LFS/CP
Inforpress/Fim
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