Jornalista espanhola alerta para regressão nos direitos das mulheres e defende educação precoce para combater machismo

Inicio | Cooperação
Jornalista espanhola alerta para regressão nos direitos das mulheres e defende educação precoce para combater machismo
09/10/25 - 04:15 pm

Cidade da Praia, 09 Out (Inforpress) – A jornalista e delegada para a Igualdade da Radiotelevisión Canaria (RTVC), Noemí Galván, alertou hoje, para os riscos de retrocessos nos direitos das mulheres, sublinhando que “os direitos nunca devem ser considerados garantidos”.

A especialista em igualdade de género alertou para a necessidade de promover a educação para a igualdade desde a infância como forma de combater o machismo estrutural.

Aquela responsável falava à Inforpress no final da formação “Comunicação com Perspectiva de Género nos Média Públicos”, realizada em parceria entre a Radiotelevisão de Cabo Verde (RTC) e a Radiotelevisión Canaria, no âmbito de um acordo de cooperação entre as duas estações públicas para partilha de experiências e formação técnica.

Segundo Noemí Galván, o principal objectivo da formação foi partilhar práticas e estratégias para integrar a perspectiva de género nas redacções, não apenas através de programas específicos sobre mulheres, mas como um princípio transversal em toda a estrutura editorial.

A especialista defendeu que os meios públicos devem ter um “papel activo” na promoção da igualdade, dando visibilidade a mulheres especialistas, promovendo lideranças femininas e desconstruindo estereótipos.

“Temos leis muito avançadas e mecanismos modernos de protecção, como abrigos, vigilância policial e pulseiras electrónicas para agressores, mas o machismo continua presente. É essencial trabalhar a educação desde muito cedo, porque enfrentamos um problema grave de regressão com o avanço de discursos negacionistas e sexistas”, alertou.

Em Espanha, explicou, a violência de género é juridicamente definida como aquela praticada por um homem contra uma mulher pelo simples facto de ela ser mulher, o que a distingue da violência doméstica.

Desde 2003, mais de 1.300 mulheres foram assassinadas em crimes de violência de género, 112 delas nas Ilhas Canárias.

No contexto cabo-verdiano, a realidade também evidencia desafios persistentes.

Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que, em 2023, a taxa de desemprego foi de 10,3 por cento (%), sendo mais elevada entre as mulheres (11,4%) do que entre os homens (9,4%).

No que toca à violência baseada no género, foram registados 2.837 casos em 2023, uma ligeira redução em relacção aos 3.010 casos de 2022. Contudo, no primeiro semestre deste ano, as autoridades registaram 936 casos, um aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O III Inquérito Demográfico e de Saúde Reprodutiva revela que 10,9% das mulheres cabo-verdianas já foram vítimas de violência física desde os 15 anos, valor inferior aos 21,5% registados em 2005, mostrando algum progresso.

Ainda assim, um estudo recente da Afrosondagem aponta que 69% dos cabo-verdianos consideram a violência de género como a questão mais urgente no âmbito dos direitos das mulheres.

Perante este cenário, Noemí Galván defendeu que é preciso continuar a investir em políticas públicas de igualdade, mas, sobretudo, em educação e transformação social.

“Mesmo com leis modernas, sem mudança cultural e sem educação desde cedo, o machismo renasce com novos rostos. Precisamos continuar a lutar, a educar e a transformar mentalidades”, concluiu.

A formação “Comunicação com Perspectiva de Género nos Média Públicos” decorreu esta semana na cidade da Praia e reuniu jornalistas e técnicos da RTC, mas também da Inforpress (convidados) num espaço de partilha de experiências e reflexão sobre o papel dos média públicos na promoção da igualdade e na prevenção da violência de género.

KA/SR//ZS

Inforpress/Fim

Partilhar