Cidade da Praia, 20 Ago (Inforpress) – O projecto ORIZON-Ortografia e Identidade em Cabo-verdiano, desenvolvido pela linguista Fernanda Pratas, da Universidade de Lisboa, pretende, como um dos objectivos, explorar a relação entre as variedades linguísticas de Cabo Verde e a construção de uma ortografia comum.
Em entrevista à Inforpress, Fernanda Pratas manifestou o sentimento de orgulho uma vez que apenas três das dezoito candidaturas foram aprovadas para financiamento pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
O projecto, avançou, reúne um grupo de investigadores cabo-verdianos com diversas formações, partindo da premissa de que a forte ligação identitária às variedades do cabo-verdiano influencia, directamente, a adopção de um sistema ortográfico comum.
Fernanda Pratas destacou que este é um tema que vai além da linguística, envolvendo questões de cultura, identidade e coesão social e que, por isso, suscita diferentes opiniões e debates.
Ao longo dos próximos 18 meses, o ORIZON irá analisar o debate social e cultural sobre o planeamento ortográfico da língua cabo-verdiana, com um compromisso científico, a investigação inclui um trabalho de campo em várias ilhas, buscando captar a riqueza fonológica e linguística das diferentes variedades locais.
Fernanda Pratas explicou que o seu interesse na ortografia do cabo-verdiano começou ao constatar dificuldades em transcrever as variantes de outras ilhas para além da ilha de Santiago.
Conforme contou à Inforpress, o estudo iniciou em 2000, e focava-se, inicialmente, na variante de Santiago, em particular o interior da ilha, salientando que para transcrever os dados da ilha “nunca teve problemas com o Alupec”, o actual alfabeto cabo-verdiano.
Depois, a dada altura, começou a constituir um Corpus de Dados Orais, com entrevistas de pessoas de outras ilhas.
Segundo acrescentou, no projecto mais recente em 2016, com mais variedades, percebeu que era muito difícil fazer um trabalho “decente”, sobre ortografia que incluísse as diversas variantes, sem estudar devidamente o assunto.
“A ortografia não era a minha especialidade em linguística, eu estudava, sobretudo, a parte da sintaxe, da morfologia, do comportamento das palavras na frase”, esclareceu, enfatizando que em 2019, iniciou os estudos em questões relacionadas com ortografia.
Em Dezembro de 2024, com a abertura da candidatura, pensou ser interessante submeter um projecto na área da ortografia.
“Eu não queria fazer isso sozinha, então contactei pessoas em Cabo Verde para fazerem parte da equipa. Foi nessa altura que eu soube que elas já tinham redigido o manual do 10.º ano”, pontuou, asseverando que no fundo os interesses se convergiram.
O projecto, explicou, pretende também estudar a reacção das comunidades a diferentes propostas ortográficas, procurando uma solução que represente toda a diversidade linguística de Cabo Verde.
Além das contribuições linguísticas, o estudo visa ainda compreender as percepções sociolinguísticas sobre a ortografia e o impacto da mesma na identidade regional e cultural.
“Se no fim disto tudo conseguirmos ter uma proposta ortográfica que represente as diferentes ilhas, excelente. É esse o objectivo, será esse um resultado muito positivo”, afirmou a investigadora.
LT/HF
Inforpress/Fim
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