Cidade da Praia, 06 Jun (Inforpress) – O presidente do Partido Popular manifestou-se crítico em relação ao impacto da independência, assinalada a 05 de Julho, sublinhando que, apesar de representar a autonomia de um povo, pouco mudou de forma efectiva para a maioria dos cabo-verdianos.
Em declarações à Inforpress, no âmbito das celebrações do cinquentenário da Independência, Amândio Barbosa Vicente afirmou que, embora tenham sido registados avanços em sectores como a educação, saúde e as infra-estruturas, “muita coisa poderia estar e ser melhor”.
“A independência significou a autonomia de um povo, mas, de certa forma, traduz pouca coisa para a grande maioria da população cabo-verdiana”, precisou.
Segundo o dirigente do Partido Popular (PP), apesar de alguns avanços, persiste ainda uma profunda sensação de estagnação, motivada, em grande parte, por uma alegada falta de vontade e honestidade da parte de quem governa.
“Há sectores estruturantes como a habitação, a saúde, a educação, a segurança e os transportes que continuam a enfrentar graves constrangimentos”, afirmou.
No que diz respeito à saúde, Amândio Barbosa Vicente afirmou que continua a ser o parente pobre deste Governo, com a escassez de recursos, a falta de investimento significativo e a desvalorização dos profissionais.
“Temos grandes profissionais no sector, mas não são valorizados pelas políticas públicas”, frisou, acrescentando que os próprios governantes não confiam no sistema público, “beneficiando de subsídios para tratamento médico fora do país”, enquanto a maioria da população enfrenta longas listas de espera e recursos limitados.
A título de exemplo, apontou a situação da habitação, considerando-a “o caso mais gritante de que a independência pouco trouxe ao povo”.
“Deixámos de ser colonizados pelos portugueses para passarmos a ser dominados por um grupo que controla o acesso à terra e impede os cidadãos de construírem a sua própria casa”, denunciou, sublinhando que o direito à habitação tem sido negado por “práticas corruptas” ao longo dos últimos anos.
O presidente do PP abordou também o problema dos transportes, tanto aéreos como marítimos, considerando-os “ineficazes e muito dispendiosos”.
Em particular, criticou a CV Interilhas, afirmando que a empresa recebe avultadas quantias diárias do Governo sem garantir um serviço de qualidade.
“Gasta-se muito dinheiro público com privados que não cumprem os contratos assinados com o Estado”, referiu o presidente do PP, que considera que há falta de transparência nos negócios estabelecidos.
Sobre o sistema de justiça, Barbosa Vicente denunciou alegadas interferências políticas e falta de independência, questionou a nomeação do procurador-geral da República pelo poder político e a “composição corporativista” do Conselho Superior da Magistratura Judicial, que, segundo o político, dificulta a responsabilização interna no sector.
“A justiça, em vez de servir o cidadão, protege os próprios agentes”, acusou.
Relativamente à política externa, o líder do PP defendeu que Cabo Verde continua excessivamente dependente dos interesses estrangeiros.
A seu ver, o país poderia ter adoptado uma postura mais autônoma, com uma diplomacia centrada nas reais necessidades do povo cabo-verdiano.
O político criticou ainda a “narrativa de crescimento económico promovida pelo Governo”, considerando-a uma “falácia”.
De acordo com Barbosa Vicente, esse crescimento tem beneficiado essencialmente empresas ligadas aos próprios governantes e não reflecte melhorias no dia a dia do cidadão comum.
“O custo de vida tem aumentado, os salários não acompanham e a pobreza extrema mantém-se”, concluiu, afirmando que “a independência trouxe autonomia, mas não se traduziu, para muitos cabo-verdianos, em melhoria efectiva das condições de vida”.
AV/CP
Inforpress/Fim
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