Independência/50 Anos: Alfabetização entre 1975 e 2012 foi um percurso de avanços significativos – Florenço Varela

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Independência/50 Anos: Alfabetização entre 1975 e 2012 foi um percurso de avanços significativos – Florenço Varela
26/04/25 - 01:22 am

Cidade da Praia, 26 Abr (Inforpress) – O Professor Doutor, Florenço Varela considerou hoje que as políticas de alfabetização entre 1975 e 2012 foram um percurso de “avanços significativos”, asseverando que é preciso coragem para defender a educação como bem público.

Florenço Varela que falava em entrevista à Inforpress, no âmbito da celebração dos 50 anos da Independência de Cabo Verde, conta que a sua ligação com a alfabetização começou em 1982.

“A educação é um acto político e ético. É preciso coragem para defender a educação como bem público. Como nos ensinou Freire (1996), a educação não transforma o mundo. A educação muda as pessoas. As pessoas transformam o mundo”, ilustrou.

Com mais de 40 anos de experiência em funções directivas nos sectores público, político, associativo e académico, coordenador nacional de Alfabetização (1982-1989), director geral da Educação e Formação de Adultos (2004-2012) e presidente do Instituto Universitário de Educação (2012-2016), Varela disse guardar com “muita emoção” a memória de um país que acreditava na educação como a “chave do desenvolvimento”.

“Nós estávamos nos primeiros anos da independência de Cabo Verde, havia uma forte mobilização popular e o país vivia o entusiasmo de construção de um novo projecto da nação. Então, é neste contexto, que integrei a equipa, na altura, da ex-direcção de alfabetização de adultos, processo que me fez aprender muita coisa. Tudo o que eu sei, graças a Deus, advém desse percurso feito, desde a época”, manifestou.

Segundo a mesma fonte, a alfabetização, na época, era um instrumento de emancipação, de cidadania e de dignidade da pessoa, uma “prática viva da pedagogia do oprimido”.

“Eu lembro-me, o então Presidente da República, Aristides Pereira, considerava a alfabetização como a nossa segunda libertação. E se Paulo Freire diz que alfabetizar é libertar, portanto, Aristides Pereira tinha razão. Sem a alfabetização, sem a educação, não há desenvolvimento”, observou. 

Destacando as apostas dos sucessivos governos a nível da alfabetização e educação no país, uma vez que se dizia que a única riqueza de Cabo Verde são os homens e as mulheres, Florenço Varela, aponta ainda que os seminários de Paulo Freire foram igualmente decisivos para marcar o processo e o caminho que a alfabetização deveria tomar.

“Trouxeram uma pedagogia centrada no diálogo, na consciência crítica e na transformação social. Ele diz que um texto é sempre um pretexto para compreendermos um contexto. Fala-nos da limitação que devemos ter em relação aos manuais… Por mais bem elaborado, por mais bonito que seja, um manual nasce com o pecado original”, referiu.

Estribado na visão freiriana, Florenço Varela salientou que os seus ensinamentos foram levados em conta em todo o processo, seja de elaboração dos materiais, na formação dos educadores, e na sua actuação durante os 30 anos que esteve na liderança de educação de jovens e adultos.

“A alfabetização foi assumida como um acto cultural. Os educadores, os alfabetizadores eram formados para serem agentes de transformação”, frisou.

Pronunciando-se sobre os principais avanços e desafios enfrentados ao longo destas quatro décadas que esteve na liderança da educação de jovens e adultos, considerou que foi uma “experiência boa” até a extinção da Direcção-Geral de Educação e Formação de Adultos em 2012.

“Devo dizer que foi um percurso de avanços significativos e avanços relevantes. Reduzimos em grande medida a taxa do analfabetismo, expandimos a oferta de educação de jovens e adultos a um nível nacional, ampliamos o programa de educação, rompendo com o conceito da alfabetização, dando o nome Direcção-Geral de Educação e Formação de Adultos (DGEFA). A alfabetização deu lugar ao conceito de educação básica de adultos, equivalente à educação básica escolar”, realçou.

Mas também, acrescentou, outras dimensões de abordagem, aprendizagem e formação profissional, a formação sócio-profissional à distância, bem como a edificação da Rádio Educativa. Como instrumento de educação e de formação era um dos pilares, até 2012, da educação de jovens e adultos.

Florenço Varela realçou, por outro lado, o reconhecimento da Unesco, com o Prémio Internacional da Alfabetização em 2010, em que Cabo Verde venceu o primeiro lugar, enquanto a Alemanha ficou em segundo lugar.

“A partir de 2012, infelizmente, houve descontinuidade, praticamente de todo o trabalho, toda aquela dimensão, aquela perspectiva de educação e formação de adultos. E hoje vale a pena repensar e ver em que medida podemos recuperar”, examinou, lamentando a extinção da DGEFA.

Do seu ponto de vista, com a extinção da Direcção-Geral de Educação e Formação de Adultos, Cabo Verde “perdeu uma estrutura articuladora” entre a educação básica de jovens e adultos, o sistema de aprendizagem e formação profissional e todo o sistema de formação à distância de jovens e adultos.

“Acho que valeria a pena, com coragem, determinação, assumir e defender a educação como bem público, como dizia Amílcar Cabral”, finalizou.

SC/ZS

Inforpress/Fim

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