Espargos, 15 Ago (Inforpress) – A ilha do Sal celebra hoje a dupla comemoração do dia de Nossa Senhora da Piedade, padroeira da localidade de Pedra de Lume, e do 86.º aniversário da aterragem do primeiro avião em solo cabo-verdiano.
As comemorações combinam a devoção religiosa com “um mergulho na história” que transformou a ilha de um “deserto árido” num pólo de desenvolvimento.
O jornalista e investigador sociocultural Ildo Rocha Ramos Fortes, através de uma nota enviada à Inforpress, relembrou os marcos que transformaram a ilha, de um “deserto inóspito” a um dos principais motores da economia de Cabo Verde.
Conforme escreveu, a história do Sal tem as suas raízes em Pedra de Lume, já que foi ali que o empresário português Manoel António Martins se estabeleceu no final do século XVIII.
Manoel António Martins foi responsável por oficializar o povoamento da ilha em 1834, impulsionado pela extracção de sal das crateras de um vulcão extinto.
Para facilitar a exportação do mineral, Martins mandou construir um túnel entre 1804 e 1808, um “feito de engenharia que abriu caminho para a criação de várias empresas”, incluindo a “Salins du Cap Vert”, fundamental para o futuro da aviação na ilha.
Conforme escreveu o investigador, a 15 de Agosto de 1939, a história do Sal ganhou um novo capítulo.
Um avião italiano, Savoia Marchetti SM83, pilotado pelos comandantes Carlo Tonini e António Moscatelli, aterrou pela primeira vez em solo cabo-verdiano. A aterragem, que aconteceu entre Feijoal e Parda, marcou o início de um novo ciclo.
“A escolha da ilha do Sal, apesar da sua paisagem inóspita, foi puramente estratégica. A presença da empresa Salins du Cap Vert com a sua infra-estrutura logística, facilitou a instalação do aeroporto”, escreveu.
O aeroporto, construído para ser um elo entre Roma e a América do Sul, operou por apenas alguns meses antes de a Itália entrar na Segunda Guerra Mundial.
Após o conflito, o governo português comprou as instalações, investiu em melhoramentos e reinaugurou o aeroporto a 15 de Maio de 1949, que se tornou um ponto crucial nas rotas aéreas.
O jornalista e investigador Ildo Rocha Fortes e a sua equipa, que conta com personalidades como o advogado Victor Osório, Dirce Évora, Etelina Évora, José Custódio da Rocha Silva e o falecido Carlos Alberto Rocha Fortes, têm trabalhado para preservar a memória da ilha.
Através do programa "Cabo Verde Tempo de Reencontros", procuram celebrar esses marcos históricos.
A iniciativa homenageia os trabalhadores do aeroporto do Sal que foram transferidos para Portugal e ilhas adjacentes com o encerramento da Ponte Aérea Sal-Lisboa.
A próxima fase do programa levará essa história aos Açores, em particular às ilhas de Santa Maria e Faial, onde a maioria desses trabalhadores se estabeleceram.
A iniciativa promete reforçar os laços entre Cabo Verde e a sua diáspora, celebrando a memória e o contributo daqueles que ajudaram a construir a história da Ilha do Sal.
O aniversário de 86 anos do primeiro voo, concluiu, não é apenas uma data, mas um “lembrete da resiliência e do progresso de uma ilha que, partindo das salinas de Pedra de Lume, se transformou num dos principais motores económicos de Cabo Verde”.
Hoje, com mais de 31 mil habitantes e responsável por 12% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, a ilha do Sal “honra o seu passado enquanto olha para o futuro”.
NA/HF
Inforpress/Fim
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