São Filipe, 29 Ago (Inforpress) – Um grupo de escritores da ilha do Fogo reúne-se hoje, na biblioteca municipal na cidade de São Filipe, para a constituição da Associação Literária do Fogo.
Verónica Barbosa, professora da escola secundária Pedro Pires e uma das dinamizadoras da criação da associação, disse que a ideia da Associação Literária do Fogo surgiu, no ano passado, no primeiro encontro de escritores do Fogo, organizado pela Câmara Municipal dos Mosteiros no âmbito da actividade “Beco Literário”.
No encontro de hoje, pouco mais de duas dezenas de escritores vão apreciar o modelo de estatuto e realizar a eleição dos membros da associação que vai contar com participantes de escritores de todos os concelhos da ilha.
“A ideia é dinamizar a literatura foguense em todos os seus sentidos, melhorar a qualidade da literatura, divulgação dos escritores da ilha, actuais e aqueles que ilustram o cânone literário cabo-verdiano, como Teixeira de Sousa e Pedro Cardoso e incentivar os jovens a escreverem”, disse Verónica.
Sublinhou ainda que a associação vai trabalhar em conjunto com as escolas, porque pretende-se ter mais escritores e publicações literárias, mas também pensar nesse público-alvo para ajudar a construir e aumentar a produção.
Segundo a mesma, a constituição da associação é uma forma de pensar, em conjunto com as câmaras municipais, as políticas públicas de leitura, da escrita, da literatura foguense, de modo a dar o contributo enquanto cidadãos.
Para a constituição da Associação Literária do Fogo, os promotores contam com apoio de outras associações literárias existentes em Cabo Verde, como a Associação Literária de Tarrafal de Santiago (Atlas) e Associação Literária de Santo Antão (Alsa).
Verónica Barbosa avançou que estão identificados mais de 20 escritores residentes e outros que vivem noutras ilhas e na diáspora e a ideia é a integração desses escritores na associação para poder ter um banco de dados com todos os escritores da ilha.
“Os foguenses são muito tímidos, não é fácil começar uma coisa assim, mas espero que consigamos que cada vez mais outros escritores mostrem o seu trabalho (...) e melhorar a qualidade a nível literário”, referiu Verónica Barbosa.
Segundo a mesma, tanto o processo de escrita quanto a actividade de leitura depende mais de quem tem posses para poder comprar os livros e de quem tem algum conhecimento.
A promotora da iniciativa acrescentou igualmente que as pessoas na ilha do Fogo preferem gastar dinheiro em roupas de marca e telemóveis caros ao invés de comprar um livro que custa, por exemplo, 1.500 escudos.
Verónica Barbosa advogou que é necessário um trabalho conjunto, desde o pré-escolar para incentivar as crianças a lerem porque é “importante” para o processo da formação das pessoas e ver como as instituições públicas possam incentivar o hábito de leitura.
“O livro é um meio de acesso à cultura”, sustentou, acrescentando que deve ser considerado como prioridade das políticas públicas das câmaras e do próprio Governo.
“Temos que dar a nossa contribuição, não fazer nada e exigir que as instituições façam tudo é complicado”, criticou Verónica Barbosa, para quem a associação poderá dar a sua contribuição e sugerir melhorias nesta matéria.
Com a criação da associação pretende-se igualmente aumentar a autoestima dos escritores que é “um pouco baixa”, sobretudo de um escritor independente quando vê todo o processo de publicação de um livro, que é muito cansativo e burocrático, e não dispõe de apoios necessários para ter o livro físico na mão.
O professor e jovem escritor Isaquiel Pina Barbosa Lobo, cujo romance “Tudo pelo Amor” vencedor da primeira edição do prémio literário-científico, Dr. Henrique Teixeira de Sousa, é também um dos impulsionadores da criação da associação.
Para o mesmo, a associação pode ser uma instância onde os escritores podem se encontrar, compartilhar ideias e experiências sobre algo que acontece e dinamizar assim a literatura da ilha.
O seu livro de estreia ainda não foi editado, mas está a trabalhar em parceria com a edilidade de São Filipe com a Imprensa Nacional neste sentido e sublinhou que já dispõe do orçamento e que a câmara e o próprio estão à procura de patrocínio para a edição de 100 exemplares para que o livro seja colocado no mercado a preço acessível.
Isaquiel Pina Barbosa Lobo disse já ter pronto um segundo romance, mas que, de acordo com a experiência do primeiro livro e com as ideias de alguns escritores sobretudo na questão do número de páginas, vai rever alguma coisa e lembrou que “Tudo pelo Amor” tem 380 páginas e é um dos factores porque o livro ainda não foi publicado.
JR/ZS
Inforpress/Fim
Partilhar