São Filipe, 15 Jul (Inforpress) - A ilha do Fogo enfrenta uma crise “prolongada e deprimente” no sector dos transportes, traduzindo-se numa “das maiores barreiras” ao desenvolvimento sustentável da ilha, consideraram os deputados do PAICV Eva Ortet e Luís Pires.
No final da visita, os dois dos três deputados do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição) pelo círculo do Fogo, afirmaram, em conferência de imprensa, terem constatado uma acumulação crescente de contratempos, afectando profundamente a mobilidade, os serviços públicos e a qualidade de vida da população.
O sector dos transportes, tanto marítimo como aéreo, é apontado como o mais debilitado, devido à escassez de barcos no triângulo Fogo, Brava e Santiago, bem como a ausência de voos de ligação para outras ilhas como São Vicente e Sal.
“Actualmente, a única ligação aérea regular resume-se à rota Praia/Fogo, marcada por cancelamentos e irregularidades dos voos”, denunciaram os parlamentares do PAICV, sublinhando que apesar de existir alguma previsibilidade nos voos, o número continua insuficiente, tendo em conta as necessidades e potencialidades da ilha.
Os investimentos públicos no sector são descritos como “tímidos e mal direccionados” e um exemplo é as obras no terminal de cargas e passageiros que demonstram “falta de visão do futuro”, mas onde os poucos avanços realizados, como a instalação de iluminação no aeródromo, são vistos como secundários diante da real prioridade que é a ampliação da pista e a sua transformação num aeroporto internacional.
“O que a ilha precisa é de um aeroporto internacional. A iluminação é importante, mas não é prioridade. A ampliação da pista traria mais segurança dos voos e transformação do aeródromo num aeroporto internacional”, perspectivaram.
O “desmantelamento progressivo” do sector aéreo também teve um impacto directo na transferência de pacientes para o Hospital Universitário Dr. Agostinho Neto, segundo os parlamentares do maior partido da oposição.
De acordo com as mesmas fontes, relatos diários, nas redes sociais, denunciam a “falta de atenção” às emergências médicas, com pacientes e familiares enfrentando situações “indignas”. No passado, lembraram, passageiros eram retirados dos voos para dar lugar a “evacuações médicas”, mas hoje, “isso já não acontece”.
A solução encontrada pelo Governo para a “evacuação de doentes” por via aérea, no dizer de Eva Ortet e Luís Pires, se mostrou “ineficaz”.
Observaram ainda que, apesar dos contribuintes estarem a pagar mensalmente por uma aeronave King Air, após um acidente no seu primeiro teste, o mesmo permanece parado no hangar do Aeroporto Internacional Nelson Mandela, na Cidade da Praia, “perante o silêncio do Governo”.
A população, disseram, clama por uma estratégia nacional integrada para resolver o problema de transporte inter ilhas, em especial para o Fogo, que há muito carece de uma visão de futuro e de investimentos estruturantes que possam impulsionar o seu verdadeiro potencial económico e social.
Os parlamentares lembraram ainda que o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, num debate em 2016, para vencer as eleições, disse que tinha as contas bem feitas e que, assim que assumisse o Governo, resolveria o problema dos transportes. “Mas encaminhou no sentido contrário e arruinou o transporte aéreo em Cabo Verde, vendeu-o, não recebeu e ficou endividado”, criticaram.
Por isso os deputados consideraram que o problema é a “desgovernação” do país e que, em matéria dos transportes, o país registou “estagnação e retrocesso e está pior do que em 1975”.
JR/ZS
Inforpress/Fim
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