Cineasta Leão Lopes critica o facto de Cabo Verde “nunca ter financiado um autor nacional”

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Cineasta Leão Lopes critica o facto de Cabo Verde “nunca ter financiado um autor nacional”
30/10/25 - 12:08 pm

Mindelo, 30 Out (Inforpress) – O cineasta e artista multidisciplinar Leão Lopes denunciou, em Maputo (Moçambique), que o Estado cabo-verdiano nunca financiou oficialmente qualquer obra cinematográfica de autores cabo-verdianos, mas apoia produções estrangeiras com uma indústria “ainda totalmente dependente”.

Leão Lopes fez as críticas ao representar o país na terceira edição dos Encontros do Património Audiovisual, que decorrem em Maputo até sexta-feira, 31, reunindo académicos, realizadores e outros profissionais do sector dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

“É um facto, Cabo Verde nunca financiou oficialmente um filme de autor cabo-verdiano”, lê-se na nota enviada à Inforpress pela Sala de Imprensa do evento.

O realizador do filme “Ilhéu de Contenda” (1995), considerada como a primeira longa-metragem de ficção do país, criticou “um sistema que os condena ao papel de eternos espectadores”, mas, apontou que, “paradoxalmente, o país apoia produções estrangeiras”, o que pouco contribui para o desenvolvimento dos criadores locais.

O também reitor do Instituto Universitário de Arte, Tecnologia e Cultura (M_EIA), no Mindelo, traçou um panorama histórico da exibição cinematográfica no arquipélago e recordou que, desde a chegada da primeira máquina de projecção a São Vicente em 1903, Cabo Verde se mantém “culturalmente dependente, incapaz de estruturar uma indústria própria”.

Ao descrever o período pós-independência como de “censura pós-colonial”, o antigo ministro da Cultura recordou episódios em que filmes foram proibidos no país, incluindo “Estado de Sítio”, de Costa-Gavras.

“Vivemos uma situação extraordinária: nacionalizamos o cinema para termos menos liberdade do que antes”, lamentou ao questionar a situação de um país livre e que "tem menos liberdade para ver cinema do que durante o colonialismo"

Leão Lopes destacou o contraste entre essa realidade e os “anos dourados” do final do período colonial, entre 1972 e 1974, quando “se via cinema de grande qualidade todos os dias”, incluindo produções europeias “contestatárias e influentes” que marcaram a sua geração.

“O paradoxo é total, durante o colonialismo tínhamos acesso a um cinema diversificado e de qualidade. Após a independência, esse acesso foi restringido em nome de uma suposta liberdade”, reiterou a mesma fonte.

Ao comparar Cabo Verde com outros países africanos lusófonos, como Moçambique, Angola e Guiné-Bissau, que após as independências criaram estruturas estatais de produção e exibição, o cineasta alertou que “sem apoio oficial, o cinema cabo-verdiano nunca dará o salto de espectador para criador”.

“Condenamos o país a importar histórias em vez de contar as suas próprias”, concluiu, ao desafiar as autoridades a uma reflexão urgente sobre as políticas culturais nacionais.

Os Encontros do Património Audiovisual prosseguem em Maputo até sexta-feira, 31, com a participação de especialistas de todos os PALOP.

LN/CP

Inforpress/Fim

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